terça-feira, novembro 27, 2007

Governo de Minas: um passo atrás na educação

(Do site do Sinpro-MG, publicado em 22/11/2007)

"Como um curso desse pode formar um professor de espanhol?"

O governo do Estado de Minas Gerais arranjou uma saída inusitada para cumprir a lei 11.161/2005, que cria a obrigatoriedade da oferta da disciplina de língua espanhola no ensino médio das redes pública e privada. Através de convênio com a fundação de uma grande escola de idiomas de Belo Horizonte, será oferecido um curso de espanhol para professores, principalmente de português e inglês, com 240 horas/aula em apenas 30 dias. O objetivo é capacitá-los a lecionar o idioma nas escolas públicas de Minas Gerais, sendo designados para cobrir a demanda gerada pela nova legislação.

Para o professor José Pires Cardoso, presidente da Associação dos Professores de Espanhol de Minas Gerais - APEMG, a medida tomada pelo governo de Minas é um passo atrás na qualidade da educação. A APEMG e várias outras entidades estão colhendo assinaturas para um manifesto que será entregue à Secretaria do Estado de Educação no dia 30 de novembro. O Sinpro Minas apóia a iniciativa e participa do ato pela qualidade do ensino do espanhol, que será promovido no dia 28 de novembro, de 11h às 15horas, na Praça 7.


Entrevista

Sinpro Minas - O curso a ser oferecido pelo Estado pode ter que implicações?
Prof. José Pires - Será um curso de imersão com 240 horas/aula. Como um curso desse pode formar um professor de espanhol? Que qualidade terá o ensino da língua espanhola para o jovens de Minas Gerais.

Sinpro Minas - Qual o prazo para a lei 11.161 ser implementada?
Prof. José Pires - A lei estabelece o prazo de 5 anos para a implementação, ou seja 4 de agosto de 2010.

Sinpro Minas - O governo poderia tomar outra medida?
Prof. José Pires - Outra saída seria o governo fazer licitação pública no qual participassem instituições de ensino superior que formam professores de língua espanhola e oferecem outra habilitação ou obtenção de novo título para quem, por exemplo, já tem a graduação em Letras (Português, Inglês ou Francês, etc).

Sinpro Minas - Existe alguma legislação que exige uma formação mínima para professores de línguas no ensino regular?
Prof. José Pires - Existe uma resolução do Conselho Nacional de Educação (02/2002), que diz ser necessário para professores do ensino básico 2.800 horas, ou seja o mínimo de 3 anos. Mas isso para um curso completo, se o professor já tiver outra habilitação, ele pode fazer só a complementação de mais ou menos 1600 horas e dar aula de espanhol.

Sinpro Minas - Quantos professores serão necessários na rede pública quando se tornar obrigatória a oferta da disciplina de espanhol?
Prof. José Pires - Se forem implementadas duas aulas de espanhol por semana, a estimativa é que sejam necessários 2.800 professores de espanhol. A secretaria do Estado de Educação disse que vai fazer um levantamento. Não foi feito nenhum concurso público.

Sinpro Minas - Então, os professores que fizerem o curso de capacitação em espanhol serão contratados sem concurso?
Prof. José Pires - A proposta hoje é a contratação por designação, conforme o Estado faz anualmente em todas as áreas. A informação é que, primeiramente, serão designados professores concursados, no caso do Espanhol, isso não vai ocorrer, porque há muito tempo não são realizados concursos. Em segundo lugar, serão chamados os professores que têm licenciatura plena (legalmente habilitados), depois com licenciatura curta, além de outros à disposição na página da Secretaria (www.educacao.mg.gov.br).

Sinpro Minas - Qual o maior problema que você vê na atitude da Secretaria do Estado de Educação de Minas Gerais quanto ao ensino do espanhol?
Prof. José Pires - O maior problema é que a oferta do curso de capacitação em 30 dias desestimula quem está cursando Letras e se graduando para o ensino do espanhol. Como é que uma pessoa sem habilitação poderá dar aulas? A conseqüência será a desvalorização da profissão e um prejuízo enorme para os alunos. Pois, que tipo de ensino de Língua Espanhola será oferecido nas escolas de ensino médio em Minas?

segunda-feira, novembro 26, 2007

Ministério Público investiga licitação em MG

(Frederico Vaconcelos, para a Folha de São Paulo – link só para assinantes, copiei do Nassif)

Consórcio de empreiteira inabilitado para construção de empreendimento de grande porte quer levar caso à Justiça

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais abriu investigação para apurar se houve irregularidade na licitação pública para a construção do Centro Administrativo do Estado de Minas Gerais, obra inicialmente estimada em cerca de R$ 900 milhões que o governo Aécio Neves (PSDB) espera ver concluída em dois anos.

Trata-se de um empreendimento de porte, ao lado da construção da Linha Verde, que liga Belo Horizonte ao aeroporto de Confins, e obra que também deverá gerar fortes dividendos eleitorais em 2010.

A investigação do Ministério Público foi instaurada porque um dos consórcios inabilitados, formado pelas empreiteiras Construcap, Ferreira Guedes e Convap - as duas primeiras de São Paulo, a terceira, de Minas Gerais -, alegou que a comissão de licitação descumpriu uma decisão judicial para evitar que sua proposta fosse conhecida.

A licitação foi divida em três lotes. No dia 15 a Codemig (Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais) anunciou a abertura das propostas com os menores preços oferecidos por três consórcios (Camargo Corrêa/Mendes Júnior/Santa Bárbara, Odebrecht/OAS/Queiroz Galvão, Andrade Gutierrez/Via Engenharia/Barbosa Mello. Outros três consórcios foram inabilitados). As três ofertas somam R$ 948 milhões.

O consórcio da Construcap diz que teve recurso negado pela Codemig em 30 de outubro e que a administração marcou para o dia seguinte, às 9h00, a abertura de envelopes com as propostas. A pressa foi entendida como forma de alijar a Construcap e parceiras da licitação, pois impediu revelar que seus preços poderiam ser inferiores aos das concorrentes.

A Construcap conseguiu, então, uma liminar do juiz Gutemberg da Mota e Silva determinando à Codemig a abertura do envelope com a proposta do grupo inabilitado. Iniciada a sessão, ao receber o oficial de justiça, a comissão de licitação, segundo a representação ao MP, "adotou uma conduta surpreendente e inexplicável: recusou-se a dar cumprimento à ordem liminar". Com isso, os envelopes não foram abertos. A Codemig obteve, depois, uma decisão judicial em que o desembargador Dárcio Lepardi Mendes suspendeu a liminar.

Mendes entendeu que a comissão de licitação mantivera a inabilitação da Construcap e de suas parceiras. Considerou os riscos de dano irreparável, pois, com a suspensão da licitação, as obras seriam adiadas, "o que afronta o interesse público". Se as reclamantes comprovarem que haviam cumprido os requisitos do edital, "o processo licitatório pode ser anulado e retomado com a participação dessas concorrentes", afirmou.

Os advogados que representam o consórcio inabilitado ofereceram representação ao Tribunal de Contas do Estado e pretendem recorrer da decisão de Mendes no TJ-MG. Na hipótese de novo desfecho desfavorável, entrarão com recurso no Superior Tribunal de Justiça.

Sobre o valerioduto tucano

Apanhado de posts reproduzidos do blog Amplifique, do Marcelo Baêta:

23/11/2007

"Minas unida" em 2010

Da Folha hoje:

"As investigações que resultaram na denúncia do valerioduto tucano tiraram da cena eleitoral de 2008, em Belo Horizonte, Walfrido dos Mares Guia e Eduardo Azeredo. Na avaliação do PT e do PSDB mineiros, mesmo que Walfrido e Azeredo neguem culpa no esquema de 1998, a condenação eleitoral já teria ocorrido.

Walfrido (PTB) era o único que poderia aproximar o PT do PSDB, solução que agradaria o prefeito petista Fernando Pimentel e o governador tucano Aécio Neves. Walfrido tinha bom trânsito com petistas e tucanos e figurou na lista do prefeito Pimentel como candidato à sua sucessão em coligação com o PT.

Já Azeredo era o nome mais forte do PSDB para ir para a disputa eleitoral e tentar desbancar os petistas, que, se vencerem, completarão 20 anos de poder no município. A opção Walfrido poderia ser até mesmo usada por Aécio Neves, que nunca escondeu que seu desejo é, se viabilizado candidato a presidente, ir para a disputa nacional com 'Minas unida'."


Aécio escapa da denúncia do mensalão mineiro

Da Folha hoje:

"O procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, deixou de fora da denúncia do valerioduto tucano e das sugestões de novas investigações políticos que receberam dinheiro do caixa dois da campanha de Eduardo Azeredo em 1998. Segundo ele, as irregularidades prescreveram em 2006.

Foram excluídos nomes da lista atribuída a Cláudio Mourão, coordenador financeiro da campanha. Constava da relação, entre outros, o governador Aécio Neves (MG), então deputado federal, com a anotação de R$110 mil. A PF destacou depósito de R$15 mil a ex-sócia da irmã de Aécio, Andréia". Assinante lê mais aqui.


Para Marcelo Leonardo, políticos mineiros foram poupados

Da Folha hoje:

O advogado de Marcos Valério Fernandes de Souza que cuida da parte criminal do caso, Marcelo Leonardo, contestou a denúncia feita ontem pela Procuradoria-geral da República, afirmando que ela é 'incoerente' em comparação com a denúncia do mensalão do PT.

'Pode-se registrar uma incoerência do procurador entre o inquérito 2245 [mensalão] e esta, na medida em que ele excluiu [da denúncia de ontem] todas as pessoas que receberam valores, justificando que isso seria crime eleitoral, que já está prescrito', disse Leonardo. Mas, segundo ele, no mensalão 'foi dito que era corrupção', e não crime eleitoral.


***

O prestigiado advogado mineiro Marcelo Leonardo ressalta que os políticos que receberam dinheiro no mensalão petista foram acusados de corrupção. Já os políticos que receberam dinheiro no mensalão tucano foram acusados de crime eleitoral, já prescrito.

Segundo o raciocínio de Marcelo Leonardo, os políticos que receberam dinheiro do valerioduto tucano foram favorecidos, receberam tratamento mais brando. Em outras palavras, não pagarão pelos seus crimes.

Entre os políticos que se enquadram no caso acima e não serão investigados encontra-se o governador Aécio Neves, que consta da "lista do Mourão" como recebedor de R$110 mil do esquema do valerioduto tucano.


24/11/2007

Investigação sobre valerioduto mineiro chega a Danilo de Castro

Da Folha hoje:

Embora centrada em episódios da campanha de 1998 à reeleição do ex-governador de Minas Gerais e hoje senador Eduardo Azeredo (PSDB), a denúncia da Procuradoria Geral da República sobre o valerioduto tucano deve afetar o futuro político de dois aliados de primeira mão do governador Aécio Neves (PSDB-MG).

Os tucanos Danilo de Castro e Mauri Torres - secretário estadual de Governo e líder de Aécio na Assembléia Legislativa, respectivamente - avalizaram, em novembro de 2004, após as eleições municipais, empréstimo de R$ 707 mil que a agência de publicidade SMPB, então de Marcos Valério, tomou no Banco Rural. Ambos dizem ter atendido a um "pedido pessoal" de Ramon Cardoso, ex-sócio de Valério.

A denúncia da Procuradoria pede que a conduta de Castro e Torres seja apurada pelo Ministério Público de Minas. Cita que as agências de Valério SMPB e DNA ganharam licitações no governo mineiro "justamente" sob Castro como responsável pelo certame. Em 2004, a SMPB também atendia o Legislativo mineiro.

Ocorre que a Promotoria mineira já investiga o caso desde fevereiro de 2006, a partir de reportagem da Folha que revelou o episódio. Aguarda há meses o envio de laudo do Instituto Nacional de Criminalística sobre o destino do empréstimo, incluso na denúncia do procurador-geral, para definir o andamento da apuração.

Se for comprovado, por exemplo, que o dinheiro abasteceu candidaturas municipais naquele ano, Castro e Torres - importantes operadores políticos de Aécio - deverão ser acionados por improbidade administrativa. Caso os recursos tenham circulado apenas dentro da SMPB, como alega Valério, a investigação é arquivada.


25/11/2007

Aécio ameaça repórter da Folha

Da Folha hoje:

(…) Ontem, Azeredo passou o dia fechado em seu gabinete. Pela manhã, recebeu a visita do governador Aécio Neves (PSDB-MG). (...) Aécio Neves justificou ter ido prestar-lhe solidariedade. "Tenho um respeito enorme pelo Azeredo, homem de bem, senador legitimado pelo voto. Isso é um percalço da vida." Aécio se irritou, no entanto, quando perguntado se a denúncia também não o atingiria. "Aí você avalia, pode atingir você também", disse à Folha.

***

Cinco jornalistas já atribuíram suas demissões à publicação de informações que teriam desagradado o governo Aécio. Até no perfil do governador no Le Monde ficou registrada essa, digamos, peculiaridade do governo de Minas.

Com esse histórico de suspeição que pesa sobre suas costas, Aécio ainda diz a uma repórter que o pergunta se uma denúncia poderia atingí-lo que ela "pode atingir você também"?!? Tenha santa paciência...


Aécio tem "imprensa simpática à sua gestão em Minas"

Por Malu Delgado, em matéria sobre a sucessão presidencial de 2010, na Folha deste domingo:

(...)

As chances do mineiro (Aécio na disputa da cabeça de chapa do PSDB com Serra) aumentariam na medida em que apresente um resultado administrativo inovador no Estado. Ele elegeu duas áreas de destaque no segundo mandato: educação e segurança pública.

(...)

Nas projeções petistas, a viabilidade maior é mesmo a candidatura de Serra. Porém, arrepiam só de pensar numa mudança de cenário com Aécio Neves na cabeça da chapa tucana. Acham que, ao contrário de Serra, ele tem forte carisma e teria uma penetração muito forte no Nordeste.

Isso sem contar o absoluto controle eleitoral de Aécio sobre o segundo maior colégio eleitoral do país, a adesão maciça de prefeitos, com uma imprensa simpática à sua gestão no Estado.

Assinante lê mais aqui.


***

"Imprensa simpática", sei.

Quer dizer então que as áreas prioritárias do governo Aécio para o segundo mandato são "educação e segurança pública"? Vamos ficar de olho no que diz a "imprensa simpática" sobre esses assuntos. (...)


Estado de Minas não cita Cemig e Copasa nas matérias sobre valerioduto tucano

Do Estado de Minas neste domingo:

(...)

Na denúncia, ele (o procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza) sustenta que houve desvio de R$3,5 milhões dos cofres públicos para a campanha à reeleição do então governador Eduardo Azeredo, hoje senador tucano. E aponta que esse valor pode ter sido maior. Segundo Antônio Fernando, há indícios, no inquérito, de uso de mais R$1.673.981,90 para financiamento dos gastos eleitorais do tucano.

Assinante confere aqui.


***

Os grifos acima são meus. Reparem que o "desvio de R$ 3,5 milhões dos cofres públicos" diz respeito ao dinheiro que, segundo a denúncia, foi desviado da Copasa, da Comig e do Bemge. E os mais deR$ 1,6 milhões a que se refere a matéria foram desviados da Cemig.

Por que o Estado de Minas não diz a seus leitores que, em 1998, houve desvio de recursos (corrupção, para ser mais claro) nas empresas públicas do governo de Minas perpetrado por uma administração tucana?

O fato é que as empresas públicas mineiras, como Cemig e Copasa, são atualmente grandes anunciantes do governo Aécio. Ou seja, o governo estadual faz propaganda de seus feitos sob a fachada institucional dessas empresas.

Resumindo, Cemig e Copasa são hoje grandes propagandistas do governador e o Estado de Minas omite que, no passado recente, foram assaltadas por tucanos. A mim parece que quando a Folha de hoje falou em "imprensa simpática" usou um baita de um eufemismo.

A tempo: o Estado de Minas é possivelmente o único jornal do Brasil que fala sobre um "suposto caixa 2″ quando se refere ao valerioduto tucano.

sexta-feira, novembro 23, 2007

Cobertura capenga cava a cova: Aécio sabia? FHC sabia?

(do blog do Azenha)

Cobertura capenga cava a cova. Simples assim. O povo não é bobo, nem a Rede Globo. Presumir que o público não consegue enxergar as distorções, manipulações e omissões praticadas nas redações brasileiras é subestimar os leitores, ouvintes e telespectadores. O que se dá é um processo de aprendizagem. Recebi uma curiosíssima mensagem de um leitor do site que disse ter crescido com a obrigação de assistir, todas as noites, ao lado do pai, ao Jornal Nacional.

Mais recentemente, este leitor proporcionou ao pai a oportunidade de acessar a internet. Os hábitos da casa mudaram. O leitor contou que o pai se deu conta, de repente, da diversidade de fontes e de que é possível confrontar informações como nunca, na História.

O problema de trombar com os fatos é simples: você cria a expectativa de que o mundo vai acabar se a Venezuela for aceita no Mercosul, promove uma luta titânica entre os pró e os contra e, de repente, a CCJ da Câmara Federal aprova o parecer por ampla maioria. O leitor, ouvinte e telespectador fica sem entender nada... É o que os americanos chamam de "wishfull thinking", ou seja, um pensamento refém do desejo.

O jornalismo brasileiro é refém de seus desejos políticos e ideológicos. Batem o bumbo continuamente, oferecendo aos consumidores uma cobertura desequilibrada dos fatos. A Venezuela reduziu fortemente a pobreza? Página 25. Faltam produtos na Venezuela por causa do aumento da demanda? Página 30. Filas na Venezuela? Primeira página. A deputada chavista bateu num jornalista? Primeira página, sem contar a história direito para que não seja possível dar razão a ela.

Qual é o resultado disso? O público leitor, ouvinte e telespectador acha que o mundo está acabando na Venezuela. E se no dia 2 de dezembro, no plebiscito para aprovar ou não as mudanças constitucionais, o Chávez vencer com 60% dos votos válidos, como tem sido a tradição? Vão dizer que o povo venezuelano foi iludido? Foi comprado com o bolsa família? Qual será a explicação? A mídia cava a cova a cada cobertura capenga.

Falemos, agora, do "mensalão mineiro", que não houve. Em Minas Gerais houve desvio de dinheiro público de origem conhecida para financiar a campanha de reeleição de Eduardo Azeredo. Era essencial eleger Azeredo, uma vez que, como aliado de Fernando Henrique Cardoso, ele daria uma tremenda força ao projeto dos tucanos de privatizar Furnas. Itamar Franco venceu e freou a privataria.

Além dos empréstimos bancários, não se sabe com certeza, ainda, a origem do dinheiro do mensalão petista, nem foi estabelecida com clareza a relação entre pagamentos mensais a senadores e deputados e o resultado de votações favoráveis ao governo no Congresso. Essa é a verdade factual. Existe uma forte suspeita de que o Banco do Brasil tenha contribuído.

Voltando ao valerioduto tucano, de acordo com a lista de Cláudio Mourão, um dos acusados de participar do esquema, dos R$ 100 milhões de reais arrecadados houve a destinação de R$ 4,5 milhões a Eduardo Azeredo para "saudar compromissos diversos". Onde é que Azeredo usou esse dinheiro? É uma pergunta que deveria ser feita a ele. Dá até para exibir o recibo que ele assinou para perguntar se é verdadeiro ou falso:



"The devil is in the details", o diabo está nos detalhes, dizem os americanos. Qual é a lista de acusados do desvio de dinheiro promovido pela coligação PSDB/PFL em Minas?

a) Eduardo Gomes foi secretário de comunicação do governo de Minas Gerais no primeiro mandato do tucano Aécio Neves, como registrou a "Folha";

b) Clésio Soares de Andrade foi vice-governador de Minas Gerais no primeiro mandato de Aécio Neves.

O que deveria levar à pergunta óbvia: Aécio Neves sabia? De acordo com a lista do tesoureiro Mourão, Aécio foi um dos beneficiários do esquema de desvio de dinheiro público, recebendo ajuda para sua campanha a deputado federal em 1998, embora os políticos de Minas, inclusive do PT, tenham escapado da denúncia.

Temos também a declaração, dada pelo próprio senador Eduardo Azeredo, ex-presidente do PSDB, de que dinheiro arrecadado para a campanha dele irrigou a campanha presidencial de Fernando Henrique Cardoso em Minas, em 1998. FHC sabia?

Estas são perguntas que os comentaristas tucanos, nas rádios, nas emissoras de TV e nos jornais, NÃO FARÃO como fizeram durante os escândalos envolvendo Lula e o mensalão petista. Porém, se o princípio é mesmo de tratar iguais como iguais, não seria o caso de algum repórter perguntar a Fernando Henrique Cardoso se ele sabia do esquema de Minas?

De acordo com a coluna Toda Mídia, do Nelson de Sá, na "Folha de S. Paulo", a TV Globo evoluiu de "o esquema conhecido como valerioduto mineiro" para "o valerioduto do PSDB mineiro", na chamada do Jornal Nacional. É um tremendo avanço. Como não tenho o hábito de ver TV, não sei se entrou ou não o organograma da quadrilha tucana. Eu me lembro que, em plena campanha eleitoral de 2006, os organogramas eram comuns na emissora, inclusive um que colocou Freud Godoy na sala ao lado do gabinete da presidência da República. Freud, ficou provado mais tarde, não tinha nada a ver com o escândalo da tentativa de compra de um dossiê por aloprados petistas. Mas a mídia abandonou o assunto assim que a campanha eleitoral terminou e Freud ficou como o "anjo negro" de Lula, segundo a definição de Veja, numa alusão ao capanga de Getúlio Vargas.

O público brasileiro é subestimado de tal forma que a Globo acha que isso não tem ABSOLUTAMENTE nada a ver com queda de audiência!

(Aqui, os documentos da Polícia Federal sobre o valerioduto mineiro. Estes não mereceram, nem de longe, a cobertura que se vê agora. Mas estamos evoluindo.)

segunda-feira, outubro 22, 2007

Agências de Marcos Valério também reinaram no governo Aécio

Perdidinha, tímida e escondinha, esta nota na Folha deste domingo

Valério dominou as licitações do 1° governo Aécio
Entre 2004 e 2005, os pagamentos do governo mineiro às empresas de Marcos Valério SMPB Comunicação e DNA Propaganda somaram R$ 30,3 e R$ 8 milhões, respectivamente. Das 14 maiores campanhas publicitárias do governo em 2004, que totalizaram de R$ 21,8 milhões, SMPB e DNA ficaram com R$ 10,6 milhões (49%).


Repararam nos anos: 2004 e 2005? Como se vê, só parou porque o escândalo do chamado "mensalão do PT" estourou em 2005.

Que tal uma investigada nesses dois anos? Quem sabe o valerioduto tucano, que começou no governo Azeredo, não continuou no governo Aécio? Afinal, essa era a especialidade de Marcos Valério.

(do Blog do Mello)

Enquanto isso, no mundo de Caras, o que continua convenientemente dando assunto é o namorico do governador com a miss. Apesar do desmentido público da própria moça sobre o "relacionamento", segundo essa notinha aqui, Aécio teria dito que ia "transformar a segunda mulher mais bonita do mundo na primeira-dama do país". Isso é que é cortina de fumaça, o resto é retalho!

sexta-feira, outubro 19, 2007

Exercício de cidadania

Recebi o e-mail abaixo do leitor Aluimar Resende:

"Prezada Clarice,

muito pertinentes as matérias publicadas em seu blog sobre o governador Aécio Neves. Pena que pouca gente se interessa por questionar o que o "novo" Collor de Mello está fazendo administrativa e economicamente com nosso estado. Dizem existir um gênio por trás dele, e eu acredito nisto, pois só com um gênio mesmo de lâmpada e tudo para conseguir remendar o rombo que este governo está fazendo nas finanças do estado em prol de sua candidatura a presidência, que é garantida seja pelo tucanato ou outro partido qualquer que o valha. As despesas com marketing e obras de vulto nacional não param, aliás, só no que tange ao marketing, pois as obras...

Sou um usuário diário da principal via que compõe a "LINHA VERDE", a Avenida Cristiano Machado, e o que todos podemos ver pelo menos nos últimos seis meses é uma tremenda enganação de vários postos de trabalho e todos com pouquíssimos trabalhadores e chance nenhuma de conclusão de nada, a não ser o trecho que compreende do centro, Av dos Andradas até a saída do túnel, e na chegada ao Aeroporto Tancredo "Neves", aonde provavelmente se anda de vidros abertos com visitantes. Engarrafamentos diários, desvios de faixas e mãos de trânsito provocando confusão e acidentes com motoristas e pedestres. Chego a brincar falando com amigos que têm sempre dois operários trabalhando: um tira uma pá de terra e joga para a esquerda e o outro tira esta mesma pá e devolve para a direita. É impressionante como o ritmo das obras caiu após a eleição. Qualquer usuário como eu que prestar um pouco a atenção, verá que existem trechos que o concreto já está ficando com um aspecto de velho antes da obra ser concluída e que muito provavelmente o que seria a solução para o trânsito da região norte da cidade, ao ficar pronta já estará completamente obsoleta e provavelmente não resolverá problema algum a não ser o da eleição presidencial...

Quero deixar claro que não considero de maneira alguma este conjunto de obras mais importante que as de qualquer outra cidade do estado, ou ainda pior que seja mais importante que um bom planejamento para resolver problemas seríssimos de saúde e educação. Quero apenas reforçar que a base do governo Aécio é fazer inauguração de obras e deixar o marketing cuidar do resto, pois até agora só ouvimos blá, blá, blá!!!

Um grande abraço

Aluimar Resende Francisco

PS: se houverem outros canais para relatar estes fatos por favor me indique pois estou indignado com a apologia falsa e surreal que se faz do governo de Minas.
A comparação que faço com o nosso ex-presidente não se refere à roubalheiras e conchavismo, ma somente à utilização do marketing como principal instrumento de governo."


Antes de mais nada, agradeço ao Aluimar não só a mensagem, mas a autorização para publicá-la aqui.

Respondi que é muito estimulante receber emails desse tipo, afinal, por razões óbvias, a gente SABE que existem coisas erradas acontecendo, mas o mundo da grande mídia é um mundo maravilhoso de fantasia, e essas pequenas coisas, esses pequenos relatos de cidadãos comuns é que reforçam a necessidade de se manter sempre um olhar crítico e atento, além de um pé (ou os dois) atrás quando lemos sobre as inúmeras e inquestionáveis virtudes do nosso governador inatacável.

Sugeri ao Aluimar que visitasse os links ao lado, podem ser úteis. Mas ao escrever pra ele tive a idéia de uma experiência que pode ser interessante! Sugeri que ele escrevesse seu relato, como cidadão comum, aos grandes jornais de Minas, afinal, todos os dias vemos reclamações desse tipo sobre a Prefeitura. Claro que se a carta fosse publicada seria uma enorme (e boa) surpresa, eu duvido que seja. Mas o que será que aconteceria se, diariamente, diversos cidadãos começassem a enviar seus relatos, suas histórias, denúncias e reclamações sobre o governo estadual? Até quando os jornais os ignorariam? Que estratégias usariam para inverter os sentidos?

Enquanto buscava os contatos dos jornais para envio de cartas dos leitores, acabei achando o tradicional Alô!Alô!, do finado DT, agora no tablóide Aqui. Curiosamente, a reclamação do dia (ontem) era sobre a linha verde. O cidadão reclama, reclama, reclama e no fim põe a culpa em quem? Na BHTrans! Na Prefeitura! Impressionante, ainda que não surpreendente.

Enfim, se alguém quiser se dispor a fazer o teste, copio abaixo os contatos dos jornais. Muitas vezes nos sentimos impotentes diante de problemas que parecem bem acima da nossa capacidade, mas se cada um fizer o pouco que está ao seu alcance, tudo fica mais fácil para todos. Se tudo que está ao seu alcance fazer é reclamar, reclame! Mas reclame pra muita gente... ;-)

Estado de Minas: opiniao.em@uai.com.br

Aqui: povo.aqui@uai.com.br
(se preferir ligar pro Alô!Alô!, o telefone é 31 3263-5372)

Hoje em Dia: opiniao@hojeemdia.com.br

O Tempo e o SuperNotícias são tão espertos que publicam as cartas de leitores nos seus sites mas não informam para onde os leitores devem enviá-las. Entrei em "fale conosco" e na falta de uma sessão "cartas dos leitores", anotei os seguintes e-mails, válidos para ambos os jornais:
Redação: luciacastro@otempo.com.br
Redação internet: emtempo@otempo.com.br

domingo, outubro 07, 2007

Enquanto isso, no mundo de Caras...

Miss Brasil e Aécio Neves estão juntos


Nas rodinhas da alta sociedade de Belo Horizonte não se fala em outra coisa: a Miss Brasil Natália Guimarães está namorando o governador de Minas Gerais, Aécio Neves. O comentário é que o político foi o grande motivador do fim do noivado de quatro anos da Miss com o empresário Cristian Wagner. E ela, por sua vez, provocou uma segunda crise — e separação — no casamento do governador com Andréa Falcão.

Aécio foi apresentado a Natália no concurso Miss Minas Gerais, mas eles se conheceram melhor só depois do Miss Universo, numa festa de amigos em comum. Recentemente, ele veio ao Rio para encontrá-la, já que a modelo estava ocupada com os ensaios de "Dança no gelo".

Procurado pela coluna, o ex disse que não sabia de nada nem sequer se o número de celular de Natália continuava o mesmo. “Para falar a verdade, não me interessa mais”, disse, chateado.

Vale lembrar que Natália elogiou Aécio no Miss Brasil.

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Esse é o nosso governador! :/

terça-feira, outubro 02, 2007

Em tom ríspido, Aécio diz que não tem relação com valerioduto mineiro

(Por Henrique Gomes Batista, do jornal O Globo)

BRASÍLIA - O governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), costuma dizer que sempre é bem-humorado, mas não foi o que transpareceu ao ser questionado por jornalistas se teme que o relatório que investiga o valerioduto em Minas Gerais respingue em sua carreira:

- Olha. Eu sou a pessoa menos adequada para falar desse assunto, até porque desconheço, não tem qualquer relação comigo. Não tenho a falar com isso, você vai encontrar outras pessoas mais qualificadas para falar sobre isso, querida. Eu fui governador em 2002 e 2006 e por estas campanhas eu respondo - disse, em tom ríspido.

O principal alvo tucano da denúncia do procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, sobre o mensalão mineiro, deverá ser o senador Eduardo Azeredo (MG). O partido, entretanto, já decidiu lavar as mãos em relação à sua defesa. Na semana passada, o comando do partido teve uma conversa definitiva com o ex-governador mineiro. O presidente do partido, senador Tasso Jereissati (CE), o líder da bancada no Senado, Arhur Virgílio (AM), e o senador Sérgio Guerra (PE) fizeram uma análise criteriosa da da situação. De forma reservada, a cúpula tucana já tem uma posição de que Azeredo deve fazer sua defesa solitária, sem envolver o PSDB.

A constatação no ninho tucano é de que o partido já se desgastou muito em 2005 quando, para proteger o governador Aécio Neves e o próprio Azeredo, que ocupava então o cargo de presidente do PSDB, resolveu amenizar o tom das críticas ao escândalo do mensalão.

Os tucanos temem ser acusados de um acordão com o Planalto, porque o ministro das Relações Institucionais e articulador político do Palácio, Walfrido dos Mares Guia, faz parte do mesmo esquema já conhecido como valerioduto mineiro.

segunda-feira, outubro 01, 2007

Andréa Neves ascende como guardiã da imagem do irmão

(César Felício e Ivana Moreira, para o jornal Valor Econômico de hoje, 01/10)

Uma menção aparentemente gratuita da Polícia Federal no inquérito sobre o mensalão mineiro jogou luz sobre uma das peças-chave do governo de Aécio Neves (PSDB). A referência traz à superfície a discreta jornalista e historiadora Andréa Neves da Cunha, 48 anos, irmã mais velha de Aécio, oficialmente chefe do serviço de assistência social do Estado e comandante de fato da área de comunicação da administração. Conhecido por delegar funções, Aécio assenta seu governo em um tripé: a parte administrativa está sob o comando do vice-governador Antonio Junho Anastasia, a costura política local fica a cargo do secretário de Governo, Danilo de Castro. Imagem e estratégia estão com a irmã.

Na página 86 do inquérito, trata-se de Lidia Maria Alonso Lima, a beneficiária de um saque de R$15 mil de uma das contas controladas pelo publicitário Marcos Valério de Souza. Como várias outras pessoas da lista, Lidia Maria disse à Polícia que recebeu os recursos a pedido de um candidato, no caso o pemedebista, já falecido, Eduardo Brandão. Em seguida, o relatório detalha: "Lídia Maria na época deste recebimento trabalhava na empresa Comercial Factoring Ltda, de propriedade de Andréa Neves da Cunha. Em outro depoimento, Lidia Maria relata ter feito parte dos quadros societários da empresa Taking Care, juntamente com Andréa Neves".

A menção a Andréa ocorre no momento em que a jornalista comanda a operação para minimizar os danos do noticiário do mensalão sobre seu irmão. Partiu da jornalista, isolada em seu gabinete no Serviço de Assistência do Estado (Servas) e em permanente contato com assessores do governo, a estratégia de aguardar uma semana de repercussão para que Aécio se pronunciasse publicamente.

Hábil em operações de blindagem e preservação de imagem, Andréa Neves só conversa sobre si com jornalistas amigos. Sua única atuação como profissional de imprensa foram algumas reportagens feitas para a revista "Pais e Filhos", nos anos 80. Ao vir para o primeiro plano, atribuiu à sua equipe a tarefa de detalhar sua situação empresarial. Assessores do governo mineiro esclarecem que Andréa foi dona da empresa de factoring entre 1993 a 1999, até a morte do marido e sócio Herval Braz, depois de um ano de luta contra o câncer. Tinha 50% do capital. Em 1996, montou com Herval, também jornalista e editor-chefe do jornal "Hoje em Dia", o segundo mais lido de Belo Horizonte, uma empresa de aluguel de carrinhos de bebê em shopping centers, com o nome em inglês. Ao ficar viúva, fechou a empresa de fomento mercantil e substituiu Herval pelo próprio Aécio, então deputado federal, como sócio da Taking Care.

Eleito governador em 2002, quatro anos depois do depósito de Marcos Valério para a funcionária de Andréia, Aécio saiu da sociedade e foi substituído, durante três anos, por Lidia Alonso. A Taking Care não é a única empresa da jornalista, cuja ascendência sobre o irmão é alvo de uma vasta mitologia em Minas Gerais. Andréa também está à frente da NC (Neves da Cunha) Participações, empresa que gere investimentos em comum dos irmãos (além do governador, há a irmã caçula, Ângela, dona de casa) e principal item patrimonial de Aécio em sua declaração de bens de 2006, quando o governador afirmou possuir cotas de capital no valor de R$193,4 mil.

Segundo a jornalista informou por meio da assessoria de imprensa do governo, a NC fora concebida para a administração de imóveis, mas hoje tem como única fonte de renda o aluguel de uma sala comercial na Avenida do Contorno, em Belo Horizonte. Andréa ainda é a responsável por duas emissoras de rádio FM, em Betim e São João del Rey, concessões dadas à família durante o governo Sarney.

Na campanha de 2006, em que Andréa atuou como uma das coordenadoras da reeleição do irmão, ela já havia sido o principal alvo da oposição. E como costuma acontecer na luta política do Estado, de forma indireta: seu nome constou como uma das operadoras no Estado do suposto caixa 2 descrito pela "Lista de Furnas", um documento cuja autenticidade está comprovada pela Polícia Federal, mas cujo conteúdo foi declarado falso pela CPI dos Correios. A lista foi colocada na Internet por militantes do PT mineiro. Andréa também ganhou ares de rainha cortadora de cabeças: circulou na Internet um vídeo onde seis jornalistas a responsabilizam diretamente pelas suas demissões, por terem feito reportagens que teriam desagradado o Palácio da Liberdade. A campanha de Aécio posteriormente conseguiu que dois dos jornalistas desmentissem a versão.

Adversários do PSDB e aliados são quase unânimes em afirmar - sempre sob reserva - que Andréa não cuida da captação de recursos e pagamento de fornecedores nas campanhas que se envolveu - todas as disputadas pelo irmão, desde a fracassada tentativa de se eleger prefeito de Belo Horizonte em 1992. Apesar da negativa do governo do Estado sobre a blindagem do governador, na primeira semana de repercussão do chamado "mensalão mineiro", o tema foi ignorado pelos jornais de Belo Horizonte.

O gerente de uma emissora de televisão relata casos em que funcionários da secretaria de Comunicação teriam obrigado repórteres a refazerem entrevistas, porque não gostaram das perguntas feitas a autoridades estaduais. Jamais partiu de Andréa, contudo, a iniciativa de ligar para uma chefia de redação. As reclamações partem de seus comandados, que negam, peremptoriamente, terem algum dia exigido a cabeça de qualquer jornalista.

Chefe do serviço de assistência social do Estado, Andréa é comandante de fato da área de comunicação.

Oficialmente, Andréa coordena o "Grupo Técnico de Comunicação", uma equipe de pelo menos doze profissionais de mídia empregados na estrutura do Estado que determina as ações de marketing. Um integrante deste grupo relatou a um amigo a cena de uma reunião. Segundo o relato, discutia-se a presença ou não do governador em um evento público que também contaria com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Aécio havia decidido não comparecer.

Depois de ouvir o colegiado, Andréia teria ligado para o irmão e dito que Aécio deveria ir. O governador ainda teria resistido, ela argumentou que, em situação semelhante, outros governadores oposicionistas como José Serra iriam. Aécio acabou comparecendo. A cena não é confirmada pela assessoria de Andréa.

Este não é o único ambiente em que Andréa discute estratégia de comunicação. A jornalista também participa de encontros eventuais de Aécio com estrategistas de marketing político e diretores de institutos de pesquisa. No primeiro mandato do governador, fazia parte de um grupo ouvido por Aécio sobre a orientação política de seu governo.

Nenhum aliado ou adversário de Aécio confirma a corriqueira versão de que Andréa seria plenipotenciária no governo, mas todos convergem na construção da mesma imagem: a irmã mais velha comporta-se de modo maternal com o governador. De longe, seria a pessoa com maior ascendência sobre Aécio Neves. Ela detesta esta versão. Por meio da assessoria de imprensa do governo, lembrou que Aécio foi eleito presidente da Câmara em 2001 e quatro vezes feito líder da bancada tucana, sem que a irmã tenha sequer se aproximado de Brasília.

A relação entre Andréa e Aécio - eles nasceram, respectivamente, em 1958 e 1960 - estreitou-se em decorrência de uma dificuldade encontrada na infância: a separação dos pais, o então deputado Aécio Cunha e Inês Maria Neves, filha do presidente Tancredo Neves, falecido em 1985. O caminho dos dois se bifurcou após a adolescência.

Andréa foi estudar história e jornalismo na PUC do Rio, participou da fundação do PT fluminense e começou a transitar nos círculos esquerdistas da zona sul carioca. Tornou-se notícia pela primeira vez ao testemunhar a explosão do Puma ocupado por um sargento e um capitão do Exército no estacionamento do Riocentro, em 1981, provavelmente uma mal-sucedida operação terrorista para sabotar a abertura política. Aécio foi para Belo Horizonte estudar economia na PUC mineira e assessorar o avô.

A convergência voltou a ocorrer em 1984. Depois da derrota da emenda das eleições diretas no Congresso, Andréa tornou-se a coordenadora no Rio da campanha que visava manter a mobilização popular em torno da eleição indireta para presidente. O grupo conseguiu atrair diversas personalidades da época: do travesti Roberta Close à atriz Cristiane Torloni, do grupo de rock Ultraje a Rigor a jogadores de futebol e ao escritor Ziraldo. Estava com Andréa um grupo que posteriormente se tornou heterogêneo: continha desde futuros tucanos como o atual deputado e ex-prefeito de Vitória, Luiz Paulo Velloso Lucas (PSDB), ou o futuro parlamentar Milton Temer, hoje ex-deputado e integrante do P-Sol. Aécio tornou-se secretário particular do avô e herdeiro político designado.

Após a morte de Tancredo e o casamento mal sucedido de Aécio, Andréa passou um ano em Nova York e, ao voltar, começou a ter papel ascendente em sua família: organizou o Memorial Tancredo Neves em São João del Rey, a pedido da avó Risoleta. Só voltou a Belo Horizonte em 1991, quando tornou-se secretária-adjunta de Cultura no governo Hélio Garcia.

O perfil radical de Andréa nos anos 80 se esfumaçou. A jornalista tem uma filha, Maria Clara, de seu primeiro marido, já falecido. Hoje está casada com o empresário Luiz Márcio Pereira, diretor do Sebrae mineiro e filho do ex-governador Francelino Pereira e comanda de forma original a assistência social em Minas. Destaca-se na filantropia estadual o alto grau de parcerias com grandes empresas e entidades patronais. A lista é extensa: empreiteiras como Camter, Barbosa Mello, Egesa, Fidens e Libe, bancos como o Itaú, multinacionais como a Nestlé e o McDonald"s, empresas do setor siderúrgico-minerador como CBMM, Mannesmann e Usiminas são apenas algumas. Na outra ponta, os recursos são distribuídos para entidades em todo o Estado.

Procurada por este jornal por dez dias, Andréa informou, via sua assessoria, que não concederia entrevista sobre questões pessoais.

sexta-feira, setembro 28, 2007

Enquanto isso, na sala de aula...

Na semana em que o TUCANODUTO (conhecido pela grande mídia como "mensalão mineiro" ou "caso mares guia") foi o assunto predominante no restante do país, a imprensa mineira, além de brincar de contorcionismo pra tirar o governador da reta sempre, também anunciou a sanção, por ele, da lei que aumenta o piso remuneratório dos professores.

Boa estratégia, ressaltar o quanto ele é camarada enquanto esconde os podres. Se bem que eu não teria cara de pau para me vangloriar de AUMENTAR o piso dos professores para 850 reais, até porque isso é admitir que nos últimos cinco anos do governo Aécio o piso era ainda menor, né? Fiquei curiosa de saber o que os professores acharam da lei, já que esse ponto de vista, eu pelo menos não vi nos jornais. Fui ao site do Sinpro-MG, o Sindicato dos Professores do Estado de Minas Gerais, e olha só o que eu achei:

Governo estadual estabelece piso abaixo da expectativa dos trabalhadores em educação

No dia 25 de setembro, foi sancionada pelo governador Aécio Neves a Lei 17006 que institui o piso remuneratório de R$ 850,00, a partir de janeiro de 2008, para os professores estaduais que trabalham 24 horas semanais. Na verdade, o trabalhador que recebe menos do que esse valor, passará a receber a diferença em forma de um novo abono, a Parcela de Complementação Remuneratória do Magistério (PCRM). Mais uma vez, o governo estadual cria abonos ao invés de valorizar efetivamente o salário dos professores.

Segundo Gilson Reis, presidente do SinproMinas, essa tática de inventar abonos e achatar salários é um artifício usado pelos governos neoliberais desde a época de FHC. "Esses abonos não contam para a aposentadoria e nem para outros direitos trabalhistas, como férias e licenças. O professor continua penalizado pelos baixos salários", avalia.

Em seu boletim do dia 20 de setembro, o Sindicato dos Trabalhadores em Educação (SindUte), que representa os professores da rede estadual, informa que o projeto de lei foi aprovado apesar dos protestos da categoria. "O projeto descaracteriza o plano de carreira, mantém tabelas salariais com vencimento básico abaixo do salário mínimo, além de tratar de forma diferenciada profissionais da educação que desempenham funções assemelhadas. Para valorização dos profissionais, é necessária a implantação de piso salarial (que é igual a vencimento básico) vinculado à formação e à jornada de trabalho, com possibilidade de avanço na carreira".

quarta-feira, setembro 26, 2007

Aécio diz que todo homem público tem de se explicar

Mais uma pérola, do Estado de Minas de hoje:

O governador Aécio Neves (PSDB) comentou nessa terça-feira os resultados da investigação envolvendo um suposto esquema de caixa 2 na campanha de 1998, do atual senador Eduardo Azeredo (PSDB) ao Palácio da Liberdade. "Acho que cada um tem que responder às denúncias. Minas Gerais conhece muito bem o senador e ex-governador Eduardo Azeredo, que é um homem de bem. Ele tem apresentado as suas justificativas e caberá ao procurador (geral da República, Antonio Fernando), em primeira instância, analisá-las e, obviamente, na seqüência, ao Supremo Tribunal Federal (STF)".

Segundo o governador, os homens públicos devem dar explicações à sociedade sobre os atos pelos quais são questionados. "Os homens públicos, devem todos eles, em qualquer momento, estar absolutamente prontos para dar explicações à sociedade. É o que espero que ocorra. Até porque, na minha avaliação, há uma diferença muito grande entre aquilo que ocorreu no plano federal com os problemas que ocorreram na campanha do então candidato Eduardo Azeredo", afirmou. O governador assinalou que Azeredo terá tempo de apresentar os seus argumentos, demonstrando "que não há paralelo entre uma questão e outra".

Quando indagado sobre a posição do PSDB diante da provável denúncia ao STF, Aécio disse que "no momento oportuno", o PSDB se manifestará. "O partido tem enorme confiança na trajetória política do governador e senador Eduardo Azeredo. Acho que Minas o conhece bem. Repito: é um homem de bem e ele deve ter a oportunidade, eu chamaria assim, isonômica em relação às acusações que surgem em relação àquela campanha, também para se defender", declarou. De acordo com Aécio, o PSDB estará ao lado de Azeredo para ouvir suas justificativas. "Eu acho que, na vida pública, devemos estar sempre muito abertos e dispostos a dar explicações e é certamente o que o senador Eduardo Azeredo fará no momento em que for necessário", afirmou.


Não bastasse a desfaçatez do governador e do jornal em ignorar solenemente que ele, Aécio, também está na lista, também está sob suspeita e também deveria "estar aberto e disposto a dar explicações", o Estado de Minas ainda pôs a cerejinha no alto do bolo na chamada de sua versão on-line:


Caso Mares Guia?
CASO MARES GUIA???
!!!

terça-feira, setembro 25, 2007

O que fazer quando o assunto do momento no país inteiro é aquele sobre o qual não se pode falar em hipótese alguma?

Eu fico impressionada (sim, ainda fico), em como a cara desse povo não queima. Veja matéria publicada hoje, 25/09, no jornal O Tempo, de Belo Horizonte:



Sentiu falta do nome de algum político de expressão aí? Ou de referência a um certo cargo de importância máxima no Estado? Reparou que quando se considera o indiciamento, não são incluídos os então candidatos a deputado? E o termo "mensalão", você viu em algum lugar? Nem eu.

Além disso, vamos ver se você adivinha qual das matérias abaixo listadas foi a única a NÃO merecer a honra de ter uma chamada, mínima que fosse, na capa do jornal:
a) MP quer devolução de dinheiro de caixa dois;
b) Título corintiano foi "roubado";
c) Argentina é sede da Copa do Mundo Gay de Futebol;
d) Dezenas de monges budistas fazem protesto em Mianmar.

Sem comentários.

***

Enquanto isso, o blog Acerto de Contas faz um interessante cálculo sobre quanto valeria hoje os R$110 mil atribuídos ao pagamento "daquele que não deve ser nomeado":

(...) Pois bem, de acordo com o IPCA, fornecido pelo IPEA Data, se os R$110.000,00 tivessem sido recebidos em outubro de 1998, esse valor seria hoje R$203.265,78.

Se Aecio ficasse com o tucanoduto, e aplicasse em algum fundo DI disponível no mercado, teria hoje uma poupança bem superior: aproximadamente R$517.595,01, menos a taxa de administração cobrada dos bancos.

Pouco mais de 25 vezes a mensalada do Professor Luizinho.

segunda-feira, setembro 24, 2007

A reação de Aécio

(Hugo Studart, para a revista Istoé)

O governador condecora o procurador da República e sua assessoria nega "qualquer repasse" do Mensalão Mineiro

O governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), sabia há mais de um ano que seu nome era citado em uma lista como beneficiário de R$110 mil provenientes de caixa 2 da campanha tucana de 1998 em Minas. Ele sabia também que essa lista fazia parte do inquérito da Polícia Federal que investigava o Mensalão Mineiro. E que o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, estava às vésperas de encaminhar ao Supremo Tribunal Federal denúncia contra os envolvidos nesse esquema. Na sexta-feira, 14, sem saber que ISTOÉ circularia no dia seguinte com os documentos do caso, o governador encontrou uma forma de obter do procurador alguma sinalização sobre sua efetiva situação no inquérito. Antonio Fernando esteve em Belo Horizonte para receber uma medalha do Ministério Público do Estado. Aproveitando a visita, Aécio resolveu convidá-lo para receber uma outra comenda: a Medalha da Inconfidência, tradicionalmente entregue no dia 21 de abril em Ouro Preto. Certamente, se estivesse prestes a relacioná-lo entre os envolvidos no Mensalão, Antonio Fernando não aceitaria a honraria, calculou Aécio. Mas o procurador aceitou a comenda. Aécio ficou tranqüilo.

A cerimônia foi discreta, exclusiva e rápida. Por volta das 9 horas, o governador perfilou todo o secretariado para aplaudir o procurador-geral no Palácio da Liberdade, sede do governo mineiro. Entre os presentes estavam quatro secretários de Estado também relacionados pela PF como tendo recebido dinheiro do Mensalão Mineiro. Logo depois, Aécio voltou a aplaudir Antonio Fernando na sede do Ministério Público, onde o procurador recebeu a segunda medalha do dia. Dois ministros do Supremo também receberam a mesma comenda, Joaquim Barbosa e Carmen Lúcia Rocha. Por coincidência, Barbosa é o relator do processo do caixa 2 tucano. Terminada a cerimônia, foram todos para Sabará almoçar na casa do ex-ministro do STF Sepúlveda Pertence. A refeição durou uma hora e meia e Aécio não ousou tocar no assunto que o preocupava, garante um dos presentes. "Vai dar tudo certo", confidenciou Aécio a um amigo, logo depois do almoço.

No dia seguinte, depois de publicada reportagem de ISTOÉ revelando o relatório final da Polícia Federal sobre o Mensalão Mineiro, Aécio se recolheu em silêncio. Na quarta-feira, 19, em sua única manifestação sobre o caso, encaminhou através de assessores uma nota à redação garantindo que, em 1998, "não houve repasse de quaisquer recursos financeiros para o então candidato Aécio Neves", e que "o nome do governador não é citado nas 172 páginas do relatório divulgado pela Polícia Federal". Diz ainda a nota que "em relação à lista contendo os nomes de 159 candidatos, a própria PF não atesta o conteúdo da mesma". De fato, como ISTOÉ revelou, a lista apresenta casos distintos. Há 82 políticos da lista com documentos bancários que provam o recebimento do dinheiro. Outros, como é o caso de Aécio, estão apenas citados na lista do ex-tesoureiro da campanha. No dia 30 de setembro, o procurador faz aniversário, mas quem pode ganhar um presente é o governador.

PF espera ouvir Aécio Neves

(Sérgio Pardellas, no Jornal do Brasil de ontem, 23/09)

A POLÍCIA FEDERAL AGUARDA com grande expectativa a decisão do procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, sobre o mensalão mineiro, prevista para o fim do mês. Policiais que atuaram nas investigações acham que, além de denunciar o grupo que gravita em torno do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), o procurador pedirá novas diligências sobre temas que ficaram em aberto no relatório: o depoimento dos políticos que aparecem como supostos beneficiários do dinheiro usado na campanha eleitoral de 1998 - entre eles, o governador Aécio Neves - a quebra de sigilo para efeito de rastreamento bancário das empresas de Marcos Valério (DNA e SMP&B) e novas investigações sobre estatais mineiras como o Bemge, as Companhias de Saneamento (Copasa), Energética (Cemig) e Mineradora (Comig), de onde saíram os cerca de R$5 milhões para irrigar o valerioduto mineiro.

As investigações apontam uma clara vinculação entre as estatais e o dinheiro que migrou para as empresas de Marcos Valério, mas não avançaram sobre o destino final dos recursos, diluídos em mais de 170 contas de campanhas eleitorais anotadas no chamado relatório Cláudio Mourão. Policiais apostam que Antonio Fernando de Souza pode não denunciar o ministro das Relações Institucionais, Walfrido Mares Guia, mas pedirá que as investigações sobre as atividades da empresa dele, a Samos Participações Ltda, sejam aprofundadas. Ninguém tem dúvidas na PF de que Walfrido atuou firme na campanha de Azeredo em 1998, indicando nomes de políticos que receberiam dinheiro do esquema de Valério, embora o publicitário, ao contrário do que fez no caso do mensalão do PT, tenha recuado e recusado-se a delatar.

Assunto sério
Motivados pela iminente denúncia do procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, sobre o tucanoduto mineiro, os principais caciques tucanos trocaram demorados telefonemas durante a semana.

Discurso combinado
O ex-presidente Fernando Henrique, o senador e presidente nacional da legenda, Tasso Jereissati (PSDB-CE), e os governadores de Minas Gerais, Aécio Neves, e de São Paulo, José Serra, afinaram o discurso. A ordem é tratar o assunto como o velho recurso não contabilizado, ou seja, o caixa 2, a fim de marcar diferença com o mensalão petista.

domingo, setembro 23, 2007

Movimento dos Sem-Mídia

Que sociedade é essa em que alguns homens e mulheres perdem sempre, no que toca o embate de idéias sobre as grandes questões nacionais, sobre os rumos que o país deve tomar ou manter? É uma sociedade em que sempre perdi sem nem poder lutar. Uma sociedade em que a derrota já vige antes da peleja. Uma sociedade em que os poderosos barões da mídia debatem sem antagonista.

Em dado momento, refletindo sobre o esmagamento das divergências, sobre a fabricação dos consensos midiáticos no que tange a política, a economia, os costumes, o entretenimento, veio-me à mente uma imagem, a imagem de brasileiros e brasileiras que, cansados de vegetar à beira das estradas, cansados de não poderem exercer sua vocação ancestral para a agricultura por falta de terra, resolveram não mais se conformar com a condição de sem-terra num país em que ela há em profusão e não pode ser semeada porque constitui reserva de valor de latifundiários. Estes cidadãos não têm terra, e cidadãos como eu, cheios de idéias e opiniões legítimas, não temos espaço, nos latifúndios midiáticos, para semearmos nossos pontos de vista. Somos, pois, sem-mídia.


Esse é um trecho do artigo escrito pelo Eduardo Guimarães sobre como nasceu o Movimento dos Sem-Mídia - MSM, idealizado por ele, que começou a se concretizar no último dia 15 de setembro, quando mais de 100 pessoas se concentraram na porta do jornal Folha de São Paulo, onde entregaram (e protocolaram) uma cópia do Manifesto do Movimento.

Veja a seguir a reportagem do Conversa Afiada, de Paulo Henrique Amorim, sobre a manifestação:



Apesar da óbvia falta de divulgação pelos grandes meios de comunicação, a iniciativa recebeu tantas mensagens de apoio que acabou sendo o pontapé inicial para a legalização do Movimento. Estão sendo cadastrados e-mails de simpatizantes e organizada uma assembléia, para se definir um estatuto e as melhores estratégias de ação. Enfim, a história completa, detalhada e atualizada é grande, e você pode ler lá no blog do Eduardo. (Sugiro voltar nos arquivos até as vésperas do dia 15, quando houve a manifestação.)

Ao contrário de que possa parecer a muitos - principalmente se/quando os "com-mídia" resolverem se manifestar sobre o MSM - o Movimento luta "por um jornalismo limpo, plural, fidedigno, apartidário e desideologizado." O grifo é meu.

Eu, Clarice, tenho minha posição política e minha ideologia, e elas são muito claras nestes meus dois blogs, o Votolula e o Fora, Aécio!. Por elas, eu luto neles. Mas não são elas as principais razões para eu assinar e divulgar esse Movimento. Eu, como cidadã, acredito que o acesso a informações isentas e completas é fundamental para o fortalecimento da democracia em sua essência, ou seja, da soberania do POVO, e não de poucos que se apropriam de sua voz.

E você?

quinta-feira, setembro 20, 2007

Uma grata e inesperada surpresa

"isso de querer
ser exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além"
(Leminski)


Esse verso sempre me acompanhou. Desde a primeira vez que li, copiei e carreguei comigo pra todo canto, é o "about me" do meu orkut. Eu o vejo como um alerta, aquela força que nos faz seguir em frente quando bate o desânimo e a vontade de desistir e conformar em apenas seguir a correnteza, que é bem mais fácil. Mas eu quero ir além de onde a correnteza me leva, eu quero me cansar de dar braçadas na direção que eu escolher e ir lá descobrir o que raios tem atrás daquela pedra. O verso incentiva, não porque represente uma crença otimista, mas porque me faz lembrar das vezes em que pude constatar sua verdade. Porque às vezes, o verso está me dizendo "ó só, não disse?" Sábio Leminski.

Hoje foi um desses dias em que tive uma boa surpresa decorrente apenas de fazer o que eu faço, de ser quem eu sou. Ok, deixo os devaneios e explico... depois de ter postado o texto do Luiz Carlos Azenha aí embaixo, voltei ao site dele e procurei por desdobramentos do assunto. Achei este post, de 12 de setembro, em que o jornalista divulga o vídeo "Liberdade, essa palavra", de Marcelo Baêta, inconformado com a ausência de divulgação de tão graves denúncias na grande mídia. O vídeo de Baêta foi reproduzido neste blog há mais de um ano, no auge da campanha, e teve até uma considerável repercussão (off-mass media, of course) entre os blogueiros mais engajados.

Não pude me conter, escrevi um e-mail para ele. Não sabia se agradecia ou cumprimentava, mas estava esfusiante de ver que finalmente o que nossas poucas e abafadas vozes tanto se esforçavam pra alardear estava começando a encontrar um espacinho que fosse em um site mantido por um jornalista conhecido, conceituado e respeitado em nível nacional. Era uma luz no fim do túnel. Eu queria contar pra ele que por mais absurdo e indignante que seja aquele vídeo - e é - ele ainda é café pequeno perto dos tantos absurdos que (não) vimos aqui em Minas, que colecionamos neste blog ao longo dos últimos meses, muitas vezes fazendo um trabalho quase de detetive pra conseguir alguma validação. Queria apenas que ele viesse ao blog, tomasse conhecimento dessas tantas outras denúncias e, quem sabe, achasse que uma ou outra pudesse merecer uma atenção especial de sua parte e acabasse alcançando também horizontes mais amplos.

Confesso que já me senti toda importante ao receber uma resposta dele, de saber que ele havia lido minha mensagem! Mas quase caí da cadeira quando descobri que ele reproduziu o meu e-mail em seu site, e até pôs chamada na capa! Como eu escrevi a ele, não pretendia nem esperava essa publicidade. Não pra mim ou para o blog, pretendia sim para as sujeiras do governador. Desta vez, a paisagem atrás da pedra foi bem mais compensadora que eu esperava, mesmo após meses e meses de braçadas incansáveis!

Azenha: mais uma vez, não sei como agradecer. Passa pouco das 22h e este blog ultrapassou em muito o último recorde de visitas em um único dia, que tinha sido ainda antes das eleições. Eu sei que ainda é pouco, muito pouco, perto da visibilidade que seria necessária para que o governador surfistinha começasse a ter sua santidade questionada pelo grande público dos meios de comunicação de massa. Mas é muito, muitíssimo relevante para uma iniciativa que começou apenas com a pretensão de atingir aos amigos mais próximos.

Além disso, mais uma vez confirmei minha crença de que cada pessoa tem o potencial de fazer alguma diferença neste mundo sim, de que se cada um fizer o que estiver ao seu alcance, as chances de uma mudança existem e não devem ser dadas como perdidas. Somente enquanto eu continuar fazendo a minha parte posso manter viva a esperança de que cada vez mais pessoas façam as suas também. E esperança renovada sempre vale a pena! :)

(Em tempo, aproveito a deixa e convido quem se interessar a ler um texto que escrevi para meu outro blog, o votolula, sobre justiça, democracia, informação e outros valores... Acho que ele meio que complementa o que vem sendo dito por aqui...)

quarta-feira, setembro 19, 2007

JN JÁ TEM CANDIDATO A PRESIDENTE

. O Jornal Nacional desta terça feira, dia 18, fez reportagem sobre um suposto "mensalão" do PSDB de Minas.

. A reportagem envolve o senador Eduardo Azeredo, do PSDB, e o Ministro Mares Guia, da articulação política do Presidente Lula.

. Mas o JN nem chegou perto do nome mais ilustre do PSDB de Minas, o Governador Aécio Neves, que aparece em todas as listas do "mensalão" mineiro.

. Quem disse que já conhecia o teor da denúncia que o Procurador-Geral da República fará sobre o suposto "mensalão" de Minas foi a revista IstoÉ.

. Como a IstoÉ tem características de um jornalismo chamemos de ... inconsistente ..., a reportagem pode ter sido o primeiro torpedo contra a candidatura de Aécio à Presidência da República.

(Clique aqui para ler sobre a reportagem da IstoÉ e quem botava dinheiro no "valerioduto")

. Como se sabe, os adversários do presidente eleito José Serra correm, sempre, o risco de ser alvejados por torpedos sob a forma, por exemplo, de dossiês.

. Só que Aécio Neves parece que venceu essa primeira barreira – se, de fato, o torpedo partiu do Palácio dos Bandeirantes - da longa caminhada que o aguarda, até ser escolhido o candidato do PSDB a Presidente.

. E venceu com direito a medalha de ouro.

. O Jornal Nacional não se deu ao trabalho de incluir Aécio Neves entre os envolvidos no "mensalão" de Minas.

. José Serra deve estar a se roer de raiva...

(Paulo Henrique Amorim, a quem eu gostaria de mandar uma porção do melhor pão de queijo das gerais, em seu ótimo Conversa Afiada)

terça-feira, setembro 18, 2007

O que a mídia não te conta

Senador Azeredo teria recebido R$ 4,5 milhões para "questões pessoais"

O inquérito da Polícia Federal que investigou o valerioduto mineiro nas eleições de 1998 diz que a campanha de reeleição do então governador e agora senador Eduardo Brandão de Azeredo arrecadou cerca de R$ 100 milhões, embora a campanha tenha declarado ao TRE despesas de pouco mais de R$ 8,5 milhões.

O tesoureiro Cláudio Roberto Mourão da Silveira moveu ação contra Eduardo Azeredo e Clésio Andrade (vice-governador no primeiro mandato de Aécio Neves) com o objetivo de obter pagamento de dívidas que teria assumido em seu nome.

Cláudio nomeou Nilton Monteiro como seu procurador para negociar um acordo.

E entregou a ele uma lista de três páginas com a discriminação detalhada dos métodos de arrecadação e os gastos da campanha.

Ao depor à Polícia Federal, Cláudio negou que houvesse passado a procuração e disse que não assinou a lista que ficou conhecida como "lista do Mourão".

Porém, as análises da PF demonstraram que é dele a assinatura nos dois documentos, sem qualquer possibilidade de que tenham sido transpostas de outro papel.

A PF admite que Mourão pode ter turbinado a lista, com o objetivo de obter um acordo melhor com aqueles que considerava devedores.

A lista, de três páginas, descreve minuciosamente as fontes do dinheiro.

Um dos truques, segundo o documento assinado por Mourão, foi na promoção do Enduro da Independência pela agência SMP&B, de Marcos Valério.

Da administração direta, ou seja, do governo de Minas, a agência recebeu R$ 2 milhões; da administração indireta, ou seja, de empresas ligadas ao governo, obteve mais de R$ 10,6 milhões.

Entre as empresas estão a CEMIG (Companhia Energética de Minas Gerais), a COPASA (Companhia de Saneamento de Minas Gerais), a COMIG (Companhia Mineradora de Minas Gerais), o BEMGE (Banco do Estado de Minas Gerais), o Crédito Real e a Loteria Mineira.

Porém, apenas uma pequena parte do dinheiro foi de fato aplicada no Enduro da Independência.

O restante foi usado na campanha.

Um dos beneficiários do "caixa dois" teria sido, segundo o documento, o atual governador de Minas Gerais, Aécio Neves, então candidato a deputado federal.

Aécio teria recebido R$ 110.000,00.

O senador Eduardo Azeredo teria recebido R$ 4,5 milhões "para compromissos diversos (questões pessoais)".

Da arrecadação total, de R$ 100 milhões, cerca de R$ 24,5 milhões teriam sido destinados ao atual ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia, "para pagamento de despesas diversas". Mares Guias era o vice-governador e havia coordenado a campanha de Azeredo em 1994.

O documento que agora Cláudio Mourão diz não ter assinado mostra que o valerioduto irrigou campanhas de dezenas de candidatos, de vários partidos, para montar a base aliada do governador.

"Parte do recurso foi com aval do governo, vindo das privatizações, de empreiteiras, Queiroz Galvão, Erkal, CBN, Egesa, Arg, Tercam, entre outros e fornecedores do Estado, de prestadores de serviços diversos, construtoras, indústrias, bancos, corretoras de valores, da CEMIG, da PRODEMG, da TELEMIG, Secretarias de Governo, inclusive da Fazenda, BANCO BDMG, de doleiros e de outros colaboradores individuais, no valor superior a cifra de R$ 80.000.000,00 (oitenta milhões de reais). Mesmo assim, ficou pendente uma dívida superior a R$ 20.000.000,00 (vinte milhões de reais)".

O relatório tem 172 páginas, foi produzido pela Diretoria de Combate ao Crime Organizado, Divisão de Repressão a Crimes Financeiros, é assinado pelo delegado Luís Flávio Zampronha de Oliveira e encaminhado ao ministro Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal - uma vez que vários dos acusados têm foro privilegiado.

O documento é um peça importante para quem quer estudar a farra do boi com dinheiro público.

(publicado por Luiz Carlos Azenha, ontem, 17 de setembro, em seu site Vi o Mundo)

PS: em um update ontem mesmo, Azenha informa ter recebido "a informação de que uma rádio mineira tocou no assunto, dizendo que o dinheiro do valerioduto financiou várias campanhas, 'inclusive do PT'." E questiona: "Ué, então deveriam ter detonado logo o Mares Guia, que é articulador político do governo Lula."
Um saquinho de pão de queijo pra quem adivinhar o que foi que o Jornal Nacional fez hoje. Com recheio pra quem acertar se foi sequer citado o nome do digníssimo governador de Minas...

PS2: para ler a íntegra da "lista do Mourão", clique aqui.

terça-feira, maio 08, 2007

Apanhado de denúncias contra Aécio Neves

(os grifos são meus)

Recebi, por e-mail, a íntegra de uma edição especial do Jornal Brasil de Fato sobre as infindáveis denúncias ao governo Aécio Neves. Apesar de a edição especial ainda não estar online, tenho autorização para dizer que o conteúdo foi reproduzido e enviado pelo gabinete da vereadora Neila Batista, em seu último boletim eletrônico.

Segundo introdução do boletim, a edição reproduzida é "um exemplo do jornalismo que vem fazendo falta na grande mídia de Minas. Em edição especial, o Jornal Brasil de Fato escancara uma montanha de notícias que revelam o lado escuro do governo Aécio Neves. É a prova cabal que este governo só não tem o contraditório porque o jornalismo mineiro (da grande mídia, diga-se), de forma equivocada, inexplicável e antijornalística, se vendeu, negociou seu maior patrimônio, a sua independência e sua dignidade, por um punhado de dinheiro."

Quem quiser a versão impressa do jornal poderá obtê-la contactando o gabinete da vereadora, pelo e-mail neilabatista@cmbh.mg.gov.br. O conteúdo, na íntegra, reproduzo a seguir. É grande, mas acredito ser um excelente apanhado – revisto e atualizado – de muita coisa que já dissemos aqui. Senta que lá vem a história...


CAPA

A farsa do governo Aécio Neves
Muita propaganda e nada de políticas sociais


Modelo implantado pelo governo Aécio em MG prioriza o ajuste fiscal, às custas do abandono dos serviços públicos e do corte de investimentos sociais

Desde seu primeiro mandato, Aécio Neves, governador de Minas Gerais, vem realizando uma intensa campanha de marketing, com anúncios na mídia nacional de que teria controlado as finanças de Minas Gerais e gerado superávit de R$ 221 milhões nas contas. Porém, de acordo com dados do Banco Central, a dívida pública do governo mineiro com o Tesouro Nacional cresceu 40,23% nos últimos 4 anos, o maior aumento entre os estados brasileiros. De R$ 32,661 bilhões em 2002, a dívida saltou para R$ 46,082 bilhões em 2006.

Segundo Fabrício de Oliveira, doutor em economia pela Unicamp, a estratégia do governo não passou de uma manobra contábil, feita com o objetivo de mascarar a real situação das contas de Minas Gerais. "O estado continua incorrendo em elevados déficits nominais e sem conseguir uma solução estrutural para sua dívida, que continua em trajetória de crescimento", destaca. Entretanto, a propaganda é outra. Segundo dados do Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi), o governo estadual gastou R$ 39,6 milhões com a pasta de Comunicação em 2006. "O déficit zero nada mais é do que um jogo de marketing", avalia Lindolfo Fernandes, presidente do Sindicato dos Fiscais de Minas Gerais.

Enquanto isso, os investimentos em saúde, segurança pública e educação caíram de R$ 11,6 bilhões para R$ 8,7 bilhões, impactando a vida de milhares de pessoas na capital e no interior do estado. "A reforma administrativa, também chamada de choque de gestão, é uma concepção empresarial que estão tentando impor como modelo de gestão de Estado. Gestão empresarial visa ao lucro e à competição no mercado, ou seja, uma noção totalmente distinta da lógica pública", esclarece o sociólogo Rudá Ricci, membro do Fórum Brasil do Orçamento.

O "choque de gestão" foi patrocinado por grandes empresas como Gerdau, Votorantim, Vale do Rio Doce e Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração, que possuem claros interesses de negócios em Minas Gerais, e contribuíram com R$ 3 milhões na campanha de Aécio Neves em 2002. Essas companhias, além da Fundação Brava, pagaram R$ 4 milhões ao Instituto de Desenvolvimento Gerencial (IDG) para desenvolver os métodos gerenciais desse governo.


"Um bom anúncio vale mais do que mil ações"

Marketing e silenciamento das vozes discordantes: dois ingredientes que contribuem para a reeleição de Aécio Neves para governador de Minas em 2006. A verba publicitária do governo de Minas inclui não só os anúncios comerciais, mas também a produção de material jornalístico a ser veiculado nos órgãos de imprensa.

Em 18 de dezembro de 2005, um grande jornal de São Paulo publicou matéria dizendo que o gasto com publicidade do governo Aécio até outubro daquele ano, havia chegado a 520% a mais do que o previsto no orçamento. Coincidência ou não, nos últimos anos, alguns jornalistas que publicaram matérias que iam contra "a verdade" do governo, foram demitidos, e, outros, até hoje, sofrem com a censura que vem do Palácio da Liberdade.

(continua...)

Apanhado de denúncias contra Aécio Neves (2)

EDITORIAL

Liberdade, ainda que tardia!


Já se passaram 4 anos e 4 meses de governo Aécio. No balanço, o resultado das políticas neoliberais na sua forma mais pura: discurso, marketing tapando desvio de verbas, políticas de exceção, privilégio para os já privilegiados, pompa e tradição oligárquica.

O neoliberalismo mineiro obedece à cartilha internacional. Para conter a exclusão e a injustiça social: repressão policial e corte nas políticas universais. Para manter o domínio e a farsa: silenciamento e censura. Para privilegiar empresários, banqueiros, amigos e possibilitar o repasse de recursos públicos a grupos privados: sucateamento, privatização, arrocho salarial e caixa 2. E para fechar a equação: marketing, muito marketing.

As denúncias permitiriam encher os jornais diariamente, mas não é o que acontece. Os donos da mídia mineira freqüentam as rodas do Palácio, enquanto os jornalistas sofrem com a censura que vem de cima. O alardeado déficit zero esconde um crescimento de 40% da dívida pública em 4 anos, o maior aumento entre os estados brasileiros. Os investimentos em saúde, educação e segurança, caíram de 66% para 45%. Graças a uma base aliada de 60 parlamentares, de um total de 77, o governo tucano ainda tem a primazia da edição de leis delegadas. Não se furtou a fazer uso delas para o que precisasse. Até janeiro deste ano, já foram mais de 100.

Em 2005, os gastos com publicidade extrapolaram em 520% o previsto no orçamento. Publicidade para mascarar, para omitir, para distorcer, para preparar a repressão, para renomear políticas nacionais e fazer muito barulho em cima de muito pouco.

Os estados são obrigados a aplicar 12% de seu orçamento em saúde. O governo Aécio aplicou, em 2006, apenas 5,72%. Em compensação escolhe alguns hospitais estaduais, pinta, reforma, maqueia, e chama toda a imprensa amiga e conivente para fazer a política de compadrio. Igual tratamento, o da política de exceção, recebe a educação, onde encontramos 70 mil professores e professoras designados, sem direitos trabalhistas garantidos.

O marketing da Cemig sobre "a melhor energia do mundo", dos mais belos e convincentes, esconde o descalabro das famílias atingidas por barragens, a precarização do trabalho, a terceirização, o repasse de fortunas para acionistas estrangeiros e a destruição do meio ambiente. Esconde o sofrimento de milhares de famílias que têm boa parte do orçamento consumido pela conta de energia, afinal, os consumidores residenciais pagam cinco vezes mais que as indústrias. Escondem que pagamos uma das tarifas mais caras do Brasil, 42% a mais que os paulistas, por exemplo. Escondem para beneficiar, entre outras, as mesmas indústrias que compõem a cadeia suja da economia mineira: siderurgia, mineração e celulose. As mesmas que pagaram para eleger o governador.

Esse é o governo Aécio Neves. Vê o povo e o meio ambiente como empecilhos. Porém, os movimentos sociais de Minas não se calaram, não se aquietaram, estão firmes e fortes para não permitir o avanço do neoliberalismo no nosso estado e no nosso país. Sabemos que toda essa farsa tem um motivo claro: Aécio quer ser presidente do Brasil. Não se depender de nós! Estaremos cada vez mais atentos. Continuaremos lutando, reivindicando, e construindo uma outra Minas possível, de verdade, de justiça, e de sonho.

Essa edição especial marca um importante momento da construção de um Projeto Popular para Minas e o Brasil, sendo lançada no II Encontro dos Movimentos Sociais Mineiros, onde afirmamos que os trabalhadores e as trabalhadoras do campo e da cidade querem e vão conquistar a "liberdade, ainda que tardia"!


PÁGINA 2

O povo grita, a polícia reprime, a mídia silencia

Governo Aécio vende uma falsa imagem ao invés de dialogar com a população


"Não é só a polícia que bate na gente. O governo Aécio é repressor porque tem o controle da mídia", desabafa Enio José Bohnenberger, militante do MST, preso por manifestar contra as políticas do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), durante o I Encontro dos Movimentos Sociais Mineiros, em abril de 2006. A imprensa silencia a fala do povo, o batalhão de choque reprime sua ação. Censura velada e repressão descarada como nos velhos tempos.

Os movimentos sociais sofreram cerceamento antes mesmo do encontro começar, quando lhes foi negado o uso de espaços públicos pelo Governo do Estado, e até pela Prefeitura de Belo Horizonte. A repressão continuou: os manifestantes foram proibidos de percorrer o trajeto previsto, reprimidos com gás de pimenta e cassetetes. Durante a manifestação na Cemig, que reivindicava redução da tarifa de energia, 7 pessoas, inclusive um menor de idade, foram presas e torturadas. Na delegacia, os militantes ouviram: "Vocês estão apanhando porque se meteram com a Polícia Militar de Minas Gerais".

MULHERES NA MIRA DA PM

O aparato repressor que prende menores, também não escolhe sexo. As atividades do I Encontro de Mulheres da Via Campesina de Minas Gerais, ocorrido por ocasião do Dia Internacional da Mulher, também foram alvos da repressão do governo. No último 7 de março, policiais chegaram atirando balas de borracha, deixando 2 feridas das cerca de 600 mulheres que paralisaram as atividades da Mina Capão Xavier, em Nova Lima, explorada pela empresa Minerações Brasileiras Reunidas (MBR). Em seguida, chegaram mais de 10 viaturas e motos policiais, um helicóptero e um caminhão da tropa de choque. A repressão continuou no dia 8 de março. A saída das mulheres do alojamento para a marcha que seria realizada na região central da capital foi atrasada em mais de três horas por policiais - homens - que revistaram todos os pertences das mulheres, sem poupar as roupas íntimas.

O 3º Relatório Nacional sobre Direitos Humanos, produzido pelo Núcleo de Estudos de Violência da USP e publicado recentemente, mostra que os registros de tortura passaram de 43 em 2003, para 71 em 2005.

DÉFICIT ZERO NÃO, DÉFICIT DE INFORMAÇÃO!

Em sua agressiva campanha de marketing, governo do Estado implementa ações com recursos federais, e as divulga como ações inovadoras. Exemplos disso estão por todas as áreas. Na educação, a distribuição de livros didáticos já é prevista pelas diretrizes legais do Ministério da Educação (MEC). O programa "Saúde em Casa" recebe verbas federais do já conhecido Programa de Saúde da Família. O "Minas sem Fome" equivale ao "Fome Zero", do governo federal. Dos 35 programas 'estruturantes' do governo (que incluem áreas de investimento obrigatório por lei, como saúde e educação), apenas 12 programas tiveram despesas liquidadas maiores do que as do programa de Comunicação Social.

TUDO EM FAMÍLIA

Às "gordas" verbas para publicidade no governo Aécio, soma-se um trabalho político de peso: a influência da irmã do governador junto à direção da imprensa. Ao discordar da orientação política de alguma matéria, Andréa Neves liga diretamente para o diretor do jornal, pressionando a linha editorial. Em abril de 2006, o então superintendente de imprensa da Subsecretaria de Comunicação Social do Governo do Estado de Minas Gerais, Ronaldo Lenoir, ao conceder entrevista a um grupo de estudantes de comunicação da PUC-Minas, disse que "ela [Andréa Neves] pode achar que o tom da matéria é politicamente incorreto, na visão desse governo".

Segundo Ronaldo, Andréa "não nega que liga para a direção de um jornal. Ela se acha no direito de fazer isso para reclamar de determinadas matérias que acha que não correspondem à verdade". Ele afirma que a decisão de apoiar o governo é dos empresários de comunicação "que não gostam que seus empregados falem mal do governo".

Uma jornalista de Belo Horizonte relatou que ainda hoje sofre com o direcionamento da cobertura por parte da direção do veículo de comunicação em que trabalha, no sentido de poupar o governo estadual. Segundo ela, isso muitas vezes parte dos próprios donos da mídia mineira, interessados nas verbas publicitárias do governo.

CASOS DE CENSURA NA IMPRENSA MINEIRA NOS ÚLTIMOS ANOS

Jornalista demitido: Marco Nascimento, ex-diretor de jornalismo da Globo Minas
Matéria divulgada: "A rua do crack", veiculada no Jornal Nacional em abril de 2003, denunciava o consumo de drogas por crianças perto do Departamento de Investigação em BH. Mostrava também a inoperância da polícia por causa de desvios de função e das penitenciárias superlotadas.

Jornalista demitido: Paulo Sérgio, ex-apresentador do Itatiaia Patrulha
Matéria divulgada: Em programa policial ao vivo, cobrava ações do Governo relativas à segurança. Era "veladamente proibido" de o fazer através do chefe, e constantemente advertido pela rádio de que o programa estava sendo gravado pela assessoria de comunicação do Governo e acompanhado por Andréia Neves.

Jornalista demitido: Ulisses Magnus, ex-editor de esporte da Rede Minas
Matéria divulgada: Demitido por causa do "Caso Cruzeiro". Zezé Perrela, então presidente do Cruzeiro, "brinca" que quando Aécio assumisse em 2003, Ulisses seria demitido. O que de fato aconteceu.

Jornalista demitido: Kajuru, ex-repórter do Esporte Total (Band)
Matéria divulgada: Critica, ao vivo, a reserva de mais de 10 mil ingressos para convidados da CBF e do governo de Minas para o jogo das eliminatórias da Copa, no dia 2 de junho de 2004, no estádio Mineirão.

Jornalista demitido: Ugo Braga, ex-editor do Estado de Minas
Matéria divulgada: A nota "Igual a Covas" comparava o governo Aécio ao de Covas, a partir de pesquisa nacional feita pelo Instituto Brasmarket sobre o desempenho do início de mandato dos 27 governadores. Aécio ficou em antepenúltimo lugar.

Fonte: "Liberdade essa palavra", vídeo de Marcelo Baeta, apresentado ao curso de Comunicação Social da UFMG, disponibilizado no sítio youtube.com - aqui: parte 1 e parte 2

(continua...)

Apanhado de denúncias contra Aécio Neves (3)

R$ 40 milhões de caixa 2 para o PSDB: silêncio da Justiça e da imprensa

Em maio de 2006, a Polícia Federal solicitou uma perícia para comprovar a autenticidade de um documento conhecido como a "Lista de Furnas". O documento, de 5 páginas, que leva a assinatura do ex-diretor da estatal Furnas Centrais Elétricas SA, Dimas Toledo, é uma relação de recursos repassados aos coordenadores e responsáveis financeiros pelas campanhas de 156 políticos, candidatos à presidência da República, aos governos dos estados, ao senado federal, e a deputados federais e estaduais, em sua maioria do PSDB. De acordo com o documento, os recursos foram levantados por intermédio de Furnas, que recebeu as doações – cerca de R$ 40 milhões – de grandes empresas, com interesse nas licitações de Furnas. Cemig, Acesita, Vale do Rio Doce, MBR, Gerdau, Bradesco, Aracruz Celulose, SMP&B, DNA Propaganda, Magnesita e Alcoa são algumas dessas empresas.

No dia 06 de junho de 2006, o Instituto Nacional de Criminalística (INC), através do laudo nº 1097/2006, comprova que a assinatura do referido documento de fato pertence a Dimas Fabiano Toledo: "Os exames realizados não evidenciaram sinais ou características de montagem ou alteração do documento analisado". O inquérito ainda tramita na 2ª Vara Criminal, no Rio de Janeiro. O Ministério Público de Minas Gerais também abriu inquérito sobre o assunto, e, em março deste ano, o laudo do INC veio a público.

A morosidade do processo e o sucessivo silêncio da imprensa brasileira se explicam pela gama de interesses que cercam a lista de Furnas. Depois de comprovada a autenticidade da assinatura, nenhuma das empresas citadas processou Dimas Toledo.

Para a campanha do governador, foram repassados R$ 5 milhões e 500 mil. A lista mostra ainda repasses para Eduardo Azeredo (R$ 550 mil), Hélio Costa (R$ 400 mil) e Zezé Perrela (R$ 350 mil). Andréia Neves, no cargo de irmã de Aécio, recebeu R$ 695 mil, "para os comitês e prefeitos do interior do estado".


Executivo ganhou poderes para fazer leis

A pedido do governador Aécio Neves, em dezembro de 2006, a base governista na Assembléia Legislativa, composta por mais de 60 parlamentares – de um total de 77 – tratorou a oposição e aprovou a edição das leis delegadas. Isso quer dizer que os deputados delegaram ao governador o poder de editar leis, que é atribuição constitucional do poder legislativo. Até janeiro deste ano, Aécio editou cerca de 130 leis delegadas que reestruturam órgãos da administração direta e indireta e criaram 500 novos cargos comissionados.

Essas leis fazem parte do que o governo chama de "choque de gestão 2". De acordo com o deputado estadual Carlos Moura (PcdoB), o governo vai ampliar as medidas adotadas no primeiro mandato, com o ajuste fiscal promovido a partir de arrocho salarial dos servidores e do corte de investimentos em áreas sociais. Para a deputada estadual Elisa Costa (PT), essa é uma forma antidemocrática de administrar o Estado. "O segundo mandato de Aécio começou como o primeiro, com lei delegada, e sem compromisso com os servidores e com a população", avalia.


PÁGINA 3


AJUSTE FISCAL ÀS CUSTAS DOS TRABALHADORES E TRABALHADORAS
Servidores públicos estão sem reajuste real há mais de 10 anos


Para o funcionalismo, o choque de gestão foi mesmo um verdadeiro pesadelo. A categoria dos fiscais amarga hoje o 19º piso salarial do país, embora Minas tenha a segunda maior arrecadação de ICMS no Brasil. Entre 2001 e 2005, a receita anual do imposto cresceu 70%.

A Coordenação dos Trabalhadores no Serviço Público de Minas Gerais denuncia que, no governo Aécio, não há espaços de debate das políticas estaduais e nem negociação efetiva com os trabalhadores e entidades sindicais. "É preciso que o governo pare de ficar só fazendo propaganda e implemente ações que realmente valorizem os servidores públicos", avaliam.

A REALIDADE DO FUNCIONALISMO ESTADUAL NOS ÚLTIMOS 4 ANOS

- Em 2003, o governo Aécio determinou, sem negociação, o corte de ponto dos(as) trabalhadores(as) em educação, e do abono de R$ 45 para quem tinha dois cargos no estado, e suspendeu o concurso de auxiliar de serviços gerais já homologado.

- Os Planos de Carreiras de diversas áreas foram instituídos sem atender às reivindicações históricas do funcionalismo.

- Novas tabelas salariais, criadas em 2005, não trouxeram reajuste, apenas incorporação de abonos ao salário-base.

- Implantação da Avaliação de Desempenho, que submete trabalhadores à pressão das chefias, e não tem caráter de valorização, mas de punição.

- Não existem programas de prevenção às doenças profissionais e nem política ampla de incentivo ao desenvolvimento profissional, mas ações segmentadas, que atendem a uma minoria.

- O atendimento do Instituto de Previdência dos Servidores do Estado está cada dia mais precário. O Projeto de Lei 59/2005, que propunha o perdão da dívida do Estado com o IPSEMG, após pressão dos deputados da oposição, foi arquivado ao final de 2005. Os trabalhadores temem que o Instituto seja privatizado.

PRINCIPAIS REIVINDICAÇÕES DOS(AS) TRABALHADORES(AS) ESTADUAIS

- Discussão e implementação de uma política salarial efetiva, que traga recomposição salarial e reajuste real.

- Reposicionamento por tempo de serviço e por escolaridade adicional para todos os trabalhadores.

- Reestruturação do atendimento médico e odontológico do Instituto de Previdência dos Servidores do Estado (IPSEMG).

SALÁRIOS-BASE DO FUNCIONALISMO PÚBLICO EM MINAS GERAIS

Escolaridade: Fundamental
Saúde: R$ 315,00
Educação: R$ 359,10

Escolaridade: Médio
Saúde: R$ 472,00
Educação: R$ 409,37

Escolaridade: Superior
Saúde: R$ 787,50
Educação: R$ 390,71 (licenciatura curta)
R$ 476,66 (licenciatura plena)

(continua...)

Apanhado de denúncias contra Aécio Neves (4)

Desvio de recursos precariza serviços de saúde em Minas

Além de não investir os 12% determinados pela Emenda 29, governo estadual transfere recursos públicos para a iniciativa privada


Ao contrário do que o governo divulga através da mídia e da publicidade, há um grande déficit na saúde em Minas. De acordo com dados do Siafi, em 2006, o governo estadual investiu apenas 5,72% do orçamento diretamente em serviços de saúde, burlando os 12% constitucionais. Desde 2003, cerca de 6% da verba da saúde foi parar em outros órgãos estaduais, como no Instituto de Previdência dos Servidores Militares (IPSM), na Secretaria de Estado de Defesa Social (SEDS), no Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), e na Copasa.

Quem sente esse problema na ponta são pessoas como dona Ana, 68 anos, que sofre para conseguir atendimento quando manifesta fortes dores no peito. "A gente fica meio jogado, esquecido, até ser atendido", referindo-se ao hospital estadual Alberto Cavalcanti, em BH.

Além de não investir o que deve em saúde, o Governo, desde o começo da gestão, vem repassando sistematicamente recursos públicos para grupos privados, através de programas como o Pro-Hosp e de parcerias com Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIPs).

De 2003 a 2006, segundo dados da Secretaria de Saúde, foram investidos R$ 197,5 milhões na recuperação da infra-estrutura de 120 hospitais em diversas regiões do estado. O problema é que grande parte dos recursos do Pro-Hosp é investida em hospitais filantrópicos e particulares contratados, que, depois de reformados, podem deixar de atender pelo SUS. "Ao invés de investir na rede estadual, o governo Aécio repassa recursos para salvar hospitais de suas dívidas", denuncia Eni Carajá, membro do Conselho Nacional de Saúde e diretor do Sindicato dos Trabalhadores da Saúde (Sind-Saúde/MG).

Enquanto isso, os 20 hospitais que compõem a Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (FHEMIG) esperam por melhorias para além das reformas das fachadas e halls de entrada. "Ao contrário do que o governo anunciou, a reforma do Pronto-Socorro João XXIII ainda não foi concluída e as condições de trabalho continuam precárias. Freqüentemente, vemos cenas tristes de pessoas que esperam horas por um atendimento de urgência, por um cuidado", avalia Jovina Gomes, trabalhadora do hospital.

EXECUÇÃO ORÇAMENTÁRIA DA EC 29 PELO GOVERNO DE MINAS

Recursos destinados exclusivamente às ações e serviços públicos de saúde
2004: 6,97%
2005: 6,23%
2006: 5,72%

Recursos não vinculados às ações e serviços públicos de saúde (destinados ao IPSM, IMA, PM, SEDS, etc.)
2004: 1,59%
2005: 1,77%
2006: 1,58%

Recursos fixados em outras funções orçamentárias e que não vinculados diretamente às ações e serviços públicos de saúde (destinados a Copasa, Fundo de Previdência, etc.)
2004: 3,60%
2005: 4,33%
2006: 6,15%

FONTE: SIAFI/MG, SCCG/SEF Demonstrativos Constitucionais 2004/2006

Movimentos e MP barram tentativa de privatização de hospital

Em abril de 2005, a Secretaria Estadual de Saúde publicou um edital para a seleção de entidade de direito privado, qualificada como OSCIP, para gerenciamento e operação do Pronto-Socorro de Venda Nova, hospital da rede FHEMIG em Belo Horizonte. Essa parceria, que contraria deliberações dos Conselhos de Saúde. "previa a transferência de recursos públicos no valor anual de R$ 31 milhões e 700 mil reais para um grupo privado administrar o hospital, segundo suas próprias regras"

Diante da constatação de irregularidades no processo de seleção, da mobilização de sindicatos e conselhos, e da ação do Ministério Público, no dia 16 de fevereiro de 2006, o Tribunal de Justiça de Minas concedeu liminar que suspendeu a transferência do hospital para a iniciativa privada.

Desperdício na saúde

No dia 20 de outubro de 2005, foram encontrados milhares de medicamentos vencidos no almoxarifado da Secretaria Estadual de Saúde, em Belo Horizonte. Entre as caixas e frascos, havia remédios para uso psiquiátrico, insulina humana, antibióticos, para tratamento de hanseníase, aids, leishmaniose, febre amarela, entre outros. Mais de um ano e meio se passou e o governo ainda não prestou esclarecimentos sobre o fato à sociedade.


Neoliberalismo também na educação

Professores e estudantes sofrem com a política de efeito demonstração do governo


Salas lotadas. Carência de material pedagógico. Baixos salários. Prédios, quadras e banheiros em péssimas condições de uso. Essa é a realidade da maioria das escolas mineiras. Segundo dados do Instituto Cultiva, tão logo Aécio tomou posse em 2003, cortou R$ 32 milhões do orçamento da Secretaria Estadual de Educação. Segundo o Sindicato dos Trabalhadores em Educação (SIND-UTE/MG), não há no estado um projeto político pedagógico universal e sim ações e projetos segmentados.

Um exemplo é o Projeto Escola-Referência que atende a apenas 200 escolas, em um universo de 3900 escolas estaduais. "Aécio Neves é adepto da política efeito demonstração. Investe em algumas escolas, mostra à população como são bonitas e do restante ninguém toma conhecimento", avalia Maria Inêz Camargos, coordenadora-geral do SIND-UTE/MG.

O governo divulgou amplamente que Minas Gerais "incorporou de forma pioneira" as crianças de 6 anos ao ensino fundamental. No entanto, esta proposta já está prevista na Lei nº 9394/96, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), e em umas das metas do Plano Nacional de Educação (PNE). Em diversas redes municipais esta incorporação já acontece desde 1996.

Nessa política de ações focadas e para poucos, está também a formação de professores. "Neste governo, está havendo um aprofundamento da política de desvalorização dos professores, o que infelizmente repercute nas salas de aula", lamenta Inêz.

Silvânia Rosa, professora do Ensino Especial da rede, denuncia ainda que a política estadual de educação para a inclusão dos alunos com deficiência é insuficiente. Segundo ela, as escolas estaduais carecem de acessibilidade e materiais específicos para esses alunos.

Formação deficitária

Outra grave realidade na educação em Minas é a implementação de uma grade curricular no ensino médio que privilegia algumas áreas de conhecimento, como português e matemática, relegando a segundo plano outras tão necessárias à formação integral do educando, como filosofia, artes, sociologia e educação física. "Isso é um retrocesso, pois há um debate nacional sobre a formação humanística, fundamental para o desenvolvimento de gerações mais solidárias e com visão crítica para atuar na sociedade", destaca Antônio Braz, professor da rede estadual e diretor do SIND-UTE/MG.

Além de tudo isso, o governo não realiza concurso público para resolver a situação irregular dos cerca de 70 mil trabalhadores designados na educação. Essa forma de contrato temporário instituído pelo Estado, em muitos casos se estende por 10, 20 anos de serviço, gerando insegurança profissional para milhares de pessoas que não têm direitos garantidos.


Violência do Estado atinge os policiais

126 policiais foram assassinados desde 2003, início do governo Aécio. Esse número mostra que a segurança no estado, vitrine do governo, não é garantida nem para os próprios trabalhadores da segurança. O governo estadual investe em aparelhagem da polícia, compra de grande quantidade de viaturas e, sobretudo, em marketing, e esquece-se das pessoas.

"Temos um estado virtual perfeito, mas quando as pessoas precisam dos serviços de saúde, de educação, de segurança, elas vêem que não é bem assim. Há uma maquiagem, que faz com que a população tenha uma visão equivocada a respeito da situação de Minas Gerais", alerta o tenente-coronel da PM Domingos Sávio de Mendonça, presidente da Associação dos Oficias da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais (AOPMBM). Ele aponta que está crescendo entre os policiais uma consciência de que a polícia deve defender os cidadãos e não quem está no poder.

(continua...)