(do blog do Azenha)
Cobertura capenga cava a cova. Simples assim. O povo não é bobo, nem a Rede Globo. Presumir que o público não consegue enxergar as distorções, manipulações e omissões praticadas nas redações brasileiras é subestimar os leitores, ouvintes e telespectadores. O que se dá é um processo de aprendizagem. Recebi uma curiosíssima mensagem de um leitor do site que disse ter crescido com a obrigação de assistir, todas as noites, ao lado do pai, ao Jornal Nacional.
Mais recentemente, este leitor proporcionou ao pai a oportunidade de acessar a internet. Os hábitos da casa mudaram. O leitor contou que o pai se deu conta, de repente, da diversidade de fontes e de que é possível confrontar informações como nunca, na História.
O problema de trombar com os fatos é simples: você cria a expectativa de que o mundo vai acabar se a Venezuela for aceita no Mercosul, promove uma luta titânica entre os pró e os contra e, de repente, a CCJ da Câmara Federal aprova o parecer por ampla maioria. O leitor, ouvinte e telespectador fica sem entender nada... É o que os americanos chamam de "wishfull thinking", ou seja, um pensamento refém do desejo.
O jornalismo brasileiro é refém de seus desejos políticos e ideológicos. Batem o bumbo continuamente, oferecendo aos consumidores uma cobertura desequilibrada dos fatos. A Venezuela reduziu fortemente a pobreza? Página 25. Faltam produtos na Venezuela por causa do aumento da demanda? Página 30. Filas na Venezuela? Primeira página. A deputada chavista bateu num jornalista? Primeira página, sem contar a história direito para que não seja possível dar razão a ela.
Qual é o resultado disso? O público leitor, ouvinte e telespectador acha que o mundo está acabando na Venezuela. E se no dia 2 de dezembro, no plebiscito para aprovar ou não as mudanças constitucionais, o Chávez vencer com 60% dos votos válidos, como tem sido a tradição? Vão dizer que o povo venezuelano foi iludido? Foi comprado com o bolsa família? Qual será a explicação? A mídia cava a cova a cada cobertura capenga.
Falemos, agora, do "mensalão mineiro", que não houve. Em Minas Gerais houve desvio de dinheiro público de origem conhecida para financiar a campanha de reeleição de Eduardo Azeredo. Era essencial eleger Azeredo, uma vez que, como aliado de Fernando Henrique Cardoso, ele daria uma tremenda força ao projeto dos tucanos de privatizar Furnas. Itamar Franco venceu e freou a privataria.
Além dos empréstimos bancários, não se sabe com certeza, ainda, a origem do dinheiro do mensalão petista, nem foi estabelecida com clareza a relação entre pagamentos mensais a senadores e deputados e o resultado de votações favoráveis ao governo no Congresso. Essa é a verdade factual. Existe uma forte suspeita de que o Banco do Brasil tenha contribuído.
Voltando ao valerioduto tucano, de acordo com a lista de Cláudio Mourão, um dos acusados de participar do esquema, dos R$ 100 milhões de reais arrecadados houve a destinação de R$ 4,5 milhões a Eduardo Azeredo para "saudar compromissos diversos". Onde é que Azeredo usou esse dinheiro? É uma pergunta que deveria ser feita a ele. Dá até para exibir o recibo que ele assinou para perguntar se é verdadeiro ou falso:
"The devil is in the details", o diabo está nos detalhes, dizem os americanos. Qual é a lista de acusados do desvio de dinheiro promovido pela coligação PSDB/PFL em Minas?
a) Eduardo Gomes foi secretário de comunicação do governo de Minas Gerais no primeiro mandato do tucano Aécio Neves, como registrou a "Folha";
b) Clésio Soares de Andrade foi vice-governador de Minas Gerais no primeiro mandato de Aécio Neves.
O que deveria levar à pergunta óbvia: Aécio Neves sabia? De acordo com a lista do tesoureiro Mourão, Aécio foi um dos beneficiários do esquema de desvio de dinheiro público, recebendo ajuda para sua campanha a deputado federal em 1998, embora os políticos de Minas, inclusive do PT, tenham escapado da denúncia.
Temos também a declaração, dada pelo próprio senador Eduardo Azeredo, ex-presidente do PSDB, de que dinheiro arrecadado para a campanha dele irrigou a campanha presidencial de Fernando Henrique Cardoso em Minas, em 1998. FHC sabia?
Estas são perguntas que os comentaristas tucanos, nas rádios, nas emissoras de TV e nos jornais, NÃO FARÃO como fizeram durante os escândalos envolvendo Lula e o mensalão petista. Porém, se o princípio é mesmo de tratar iguais como iguais, não seria o caso de algum repórter perguntar a Fernando Henrique Cardoso se ele sabia do esquema de Minas?
De acordo com a coluna Toda Mídia, do Nelson de Sá, na "Folha de S. Paulo", a TV Globo evoluiu de "o esquema conhecido como valerioduto mineiro" para "o valerioduto do PSDB mineiro", na chamada do Jornal Nacional. É um tremendo avanço. Como não tenho o hábito de ver TV, não sei se entrou ou não o organograma da quadrilha tucana. Eu me lembro que, em plena campanha eleitoral de 2006, os organogramas eram comuns na emissora, inclusive um que colocou Freud Godoy na sala ao lado do gabinete da presidência da República. Freud, ficou provado mais tarde, não tinha nada a ver com o escândalo da tentativa de compra de um dossiê por aloprados petistas. Mas a mídia abandonou o assunto assim que a campanha eleitoral terminou e Freud ficou como o "anjo negro" de Lula, segundo a definição de Veja, numa alusão ao capanga de Getúlio Vargas.
O público brasileiro é subestimado de tal forma que a Globo acha que isso não tem ABSOLUTAMENTE nada a ver com queda de audiência!
(Aqui, os documentos da Polícia Federal sobre o valerioduto mineiro. Estes não mereceram, nem de longe, a cobertura que se vê agora. Mas estamos evoluindo.)
sexta-feira, novembro 23, 2007
Cobertura capenga cava a cova: Aécio sabia? FHC sabia?
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