sexta-feira, setembro 28, 2007

Enquanto isso, na sala de aula...

Na semana em que o TUCANODUTO (conhecido pela grande mídia como "mensalão mineiro" ou "caso mares guia") foi o assunto predominante no restante do país, a imprensa mineira, além de brincar de contorcionismo pra tirar o governador da reta sempre, também anunciou a sanção, por ele, da lei que aumenta o piso remuneratório dos professores.

Boa estratégia, ressaltar o quanto ele é camarada enquanto esconde os podres. Se bem que eu não teria cara de pau para me vangloriar de AUMENTAR o piso dos professores para 850 reais, até porque isso é admitir que nos últimos cinco anos do governo Aécio o piso era ainda menor, né? Fiquei curiosa de saber o que os professores acharam da lei, já que esse ponto de vista, eu pelo menos não vi nos jornais. Fui ao site do Sinpro-MG, o Sindicato dos Professores do Estado de Minas Gerais, e olha só o que eu achei:

Governo estadual estabelece piso abaixo da expectativa dos trabalhadores em educação

No dia 25 de setembro, foi sancionada pelo governador Aécio Neves a Lei 17006 que institui o piso remuneratório de R$ 850,00, a partir de janeiro de 2008, para os professores estaduais que trabalham 24 horas semanais. Na verdade, o trabalhador que recebe menos do que esse valor, passará a receber a diferença em forma de um novo abono, a Parcela de Complementação Remuneratória do Magistério (PCRM). Mais uma vez, o governo estadual cria abonos ao invés de valorizar efetivamente o salário dos professores.

Segundo Gilson Reis, presidente do SinproMinas, essa tática de inventar abonos e achatar salários é um artifício usado pelos governos neoliberais desde a época de FHC. "Esses abonos não contam para a aposentadoria e nem para outros direitos trabalhistas, como férias e licenças. O professor continua penalizado pelos baixos salários", avalia.

Em seu boletim do dia 20 de setembro, o Sindicato dos Trabalhadores em Educação (SindUte), que representa os professores da rede estadual, informa que o projeto de lei foi aprovado apesar dos protestos da categoria. "O projeto descaracteriza o plano de carreira, mantém tabelas salariais com vencimento básico abaixo do salário mínimo, além de tratar de forma diferenciada profissionais da educação que desempenham funções assemelhadas. Para valorização dos profissionais, é necessária a implantação de piso salarial (que é igual a vencimento básico) vinculado à formação e à jornada de trabalho, com possibilidade de avanço na carreira".

quarta-feira, setembro 26, 2007

Aécio diz que todo homem público tem de se explicar

Mais uma pérola, do Estado de Minas de hoje:

O governador Aécio Neves (PSDB) comentou nessa terça-feira os resultados da investigação envolvendo um suposto esquema de caixa 2 na campanha de 1998, do atual senador Eduardo Azeredo (PSDB) ao Palácio da Liberdade. "Acho que cada um tem que responder às denúncias. Minas Gerais conhece muito bem o senador e ex-governador Eduardo Azeredo, que é um homem de bem. Ele tem apresentado as suas justificativas e caberá ao procurador (geral da República, Antonio Fernando), em primeira instância, analisá-las e, obviamente, na seqüência, ao Supremo Tribunal Federal (STF)".

Segundo o governador, os homens públicos devem dar explicações à sociedade sobre os atos pelos quais são questionados. "Os homens públicos, devem todos eles, em qualquer momento, estar absolutamente prontos para dar explicações à sociedade. É o que espero que ocorra. Até porque, na minha avaliação, há uma diferença muito grande entre aquilo que ocorreu no plano federal com os problemas que ocorreram na campanha do então candidato Eduardo Azeredo", afirmou. O governador assinalou que Azeredo terá tempo de apresentar os seus argumentos, demonstrando "que não há paralelo entre uma questão e outra".

Quando indagado sobre a posição do PSDB diante da provável denúncia ao STF, Aécio disse que "no momento oportuno", o PSDB se manifestará. "O partido tem enorme confiança na trajetória política do governador e senador Eduardo Azeredo. Acho que Minas o conhece bem. Repito: é um homem de bem e ele deve ter a oportunidade, eu chamaria assim, isonômica em relação às acusações que surgem em relação àquela campanha, também para se defender", declarou. De acordo com Aécio, o PSDB estará ao lado de Azeredo para ouvir suas justificativas. "Eu acho que, na vida pública, devemos estar sempre muito abertos e dispostos a dar explicações e é certamente o que o senador Eduardo Azeredo fará no momento em que for necessário", afirmou.


Não bastasse a desfaçatez do governador e do jornal em ignorar solenemente que ele, Aécio, também está na lista, também está sob suspeita e também deveria "estar aberto e disposto a dar explicações", o Estado de Minas ainda pôs a cerejinha no alto do bolo na chamada de sua versão on-line:


Caso Mares Guia?
CASO MARES GUIA???
!!!

terça-feira, setembro 25, 2007

O que fazer quando o assunto do momento no país inteiro é aquele sobre o qual não se pode falar em hipótese alguma?

Eu fico impressionada (sim, ainda fico), em como a cara desse povo não queima. Veja matéria publicada hoje, 25/09, no jornal O Tempo, de Belo Horizonte:



Sentiu falta do nome de algum político de expressão aí? Ou de referência a um certo cargo de importância máxima no Estado? Reparou que quando se considera o indiciamento, não são incluídos os então candidatos a deputado? E o termo "mensalão", você viu em algum lugar? Nem eu.

Além disso, vamos ver se você adivinha qual das matérias abaixo listadas foi a única a NÃO merecer a honra de ter uma chamada, mínima que fosse, na capa do jornal:
a) MP quer devolução de dinheiro de caixa dois;
b) Título corintiano foi "roubado";
c) Argentina é sede da Copa do Mundo Gay de Futebol;
d) Dezenas de monges budistas fazem protesto em Mianmar.

Sem comentários.

***

Enquanto isso, o blog Acerto de Contas faz um interessante cálculo sobre quanto valeria hoje os R$110 mil atribuídos ao pagamento "daquele que não deve ser nomeado":

(...) Pois bem, de acordo com o IPCA, fornecido pelo IPEA Data, se os R$110.000,00 tivessem sido recebidos em outubro de 1998, esse valor seria hoje R$203.265,78.

Se Aecio ficasse com o tucanoduto, e aplicasse em algum fundo DI disponível no mercado, teria hoje uma poupança bem superior: aproximadamente R$517.595,01, menos a taxa de administração cobrada dos bancos.

Pouco mais de 25 vezes a mensalada do Professor Luizinho.

segunda-feira, setembro 24, 2007

A reação de Aécio

(Hugo Studart, para a revista Istoé)

O governador condecora o procurador da República e sua assessoria nega "qualquer repasse" do Mensalão Mineiro

O governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), sabia há mais de um ano que seu nome era citado em uma lista como beneficiário de R$110 mil provenientes de caixa 2 da campanha tucana de 1998 em Minas. Ele sabia também que essa lista fazia parte do inquérito da Polícia Federal que investigava o Mensalão Mineiro. E que o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, estava às vésperas de encaminhar ao Supremo Tribunal Federal denúncia contra os envolvidos nesse esquema. Na sexta-feira, 14, sem saber que ISTOÉ circularia no dia seguinte com os documentos do caso, o governador encontrou uma forma de obter do procurador alguma sinalização sobre sua efetiva situação no inquérito. Antonio Fernando esteve em Belo Horizonte para receber uma medalha do Ministério Público do Estado. Aproveitando a visita, Aécio resolveu convidá-lo para receber uma outra comenda: a Medalha da Inconfidência, tradicionalmente entregue no dia 21 de abril em Ouro Preto. Certamente, se estivesse prestes a relacioná-lo entre os envolvidos no Mensalão, Antonio Fernando não aceitaria a honraria, calculou Aécio. Mas o procurador aceitou a comenda. Aécio ficou tranqüilo.

A cerimônia foi discreta, exclusiva e rápida. Por volta das 9 horas, o governador perfilou todo o secretariado para aplaudir o procurador-geral no Palácio da Liberdade, sede do governo mineiro. Entre os presentes estavam quatro secretários de Estado também relacionados pela PF como tendo recebido dinheiro do Mensalão Mineiro. Logo depois, Aécio voltou a aplaudir Antonio Fernando na sede do Ministério Público, onde o procurador recebeu a segunda medalha do dia. Dois ministros do Supremo também receberam a mesma comenda, Joaquim Barbosa e Carmen Lúcia Rocha. Por coincidência, Barbosa é o relator do processo do caixa 2 tucano. Terminada a cerimônia, foram todos para Sabará almoçar na casa do ex-ministro do STF Sepúlveda Pertence. A refeição durou uma hora e meia e Aécio não ousou tocar no assunto que o preocupava, garante um dos presentes. "Vai dar tudo certo", confidenciou Aécio a um amigo, logo depois do almoço.

No dia seguinte, depois de publicada reportagem de ISTOÉ revelando o relatório final da Polícia Federal sobre o Mensalão Mineiro, Aécio se recolheu em silêncio. Na quarta-feira, 19, em sua única manifestação sobre o caso, encaminhou através de assessores uma nota à redação garantindo que, em 1998, "não houve repasse de quaisquer recursos financeiros para o então candidato Aécio Neves", e que "o nome do governador não é citado nas 172 páginas do relatório divulgado pela Polícia Federal". Diz ainda a nota que "em relação à lista contendo os nomes de 159 candidatos, a própria PF não atesta o conteúdo da mesma". De fato, como ISTOÉ revelou, a lista apresenta casos distintos. Há 82 políticos da lista com documentos bancários que provam o recebimento do dinheiro. Outros, como é o caso de Aécio, estão apenas citados na lista do ex-tesoureiro da campanha. No dia 30 de setembro, o procurador faz aniversário, mas quem pode ganhar um presente é o governador.

PF espera ouvir Aécio Neves

(Sérgio Pardellas, no Jornal do Brasil de ontem, 23/09)

A POLÍCIA FEDERAL AGUARDA com grande expectativa a decisão do procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, sobre o mensalão mineiro, prevista para o fim do mês. Policiais que atuaram nas investigações acham que, além de denunciar o grupo que gravita em torno do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), o procurador pedirá novas diligências sobre temas que ficaram em aberto no relatório: o depoimento dos políticos que aparecem como supostos beneficiários do dinheiro usado na campanha eleitoral de 1998 - entre eles, o governador Aécio Neves - a quebra de sigilo para efeito de rastreamento bancário das empresas de Marcos Valério (DNA e SMP&B) e novas investigações sobre estatais mineiras como o Bemge, as Companhias de Saneamento (Copasa), Energética (Cemig) e Mineradora (Comig), de onde saíram os cerca de R$5 milhões para irrigar o valerioduto mineiro.

As investigações apontam uma clara vinculação entre as estatais e o dinheiro que migrou para as empresas de Marcos Valério, mas não avançaram sobre o destino final dos recursos, diluídos em mais de 170 contas de campanhas eleitorais anotadas no chamado relatório Cláudio Mourão. Policiais apostam que Antonio Fernando de Souza pode não denunciar o ministro das Relações Institucionais, Walfrido Mares Guia, mas pedirá que as investigações sobre as atividades da empresa dele, a Samos Participações Ltda, sejam aprofundadas. Ninguém tem dúvidas na PF de que Walfrido atuou firme na campanha de Azeredo em 1998, indicando nomes de políticos que receberiam dinheiro do esquema de Valério, embora o publicitário, ao contrário do que fez no caso do mensalão do PT, tenha recuado e recusado-se a delatar.

Assunto sério
Motivados pela iminente denúncia do procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, sobre o tucanoduto mineiro, os principais caciques tucanos trocaram demorados telefonemas durante a semana.

Discurso combinado
O ex-presidente Fernando Henrique, o senador e presidente nacional da legenda, Tasso Jereissati (PSDB-CE), e os governadores de Minas Gerais, Aécio Neves, e de São Paulo, José Serra, afinaram o discurso. A ordem é tratar o assunto como o velho recurso não contabilizado, ou seja, o caixa 2, a fim de marcar diferença com o mensalão petista.

domingo, setembro 23, 2007

Movimento dos Sem-Mídia

Que sociedade é essa em que alguns homens e mulheres perdem sempre, no que toca o embate de idéias sobre as grandes questões nacionais, sobre os rumos que o país deve tomar ou manter? É uma sociedade em que sempre perdi sem nem poder lutar. Uma sociedade em que a derrota já vige antes da peleja. Uma sociedade em que os poderosos barões da mídia debatem sem antagonista.

Em dado momento, refletindo sobre o esmagamento das divergências, sobre a fabricação dos consensos midiáticos no que tange a política, a economia, os costumes, o entretenimento, veio-me à mente uma imagem, a imagem de brasileiros e brasileiras que, cansados de vegetar à beira das estradas, cansados de não poderem exercer sua vocação ancestral para a agricultura por falta de terra, resolveram não mais se conformar com a condição de sem-terra num país em que ela há em profusão e não pode ser semeada porque constitui reserva de valor de latifundiários. Estes cidadãos não têm terra, e cidadãos como eu, cheios de idéias e opiniões legítimas, não temos espaço, nos latifúndios midiáticos, para semearmos nossos pontos de vista. Somos, pois, sem-mídia.


Esse é um trecho do artigo escrito pelo Eduardo Guimarães sobre como nasceu o Movimento dos Sem-Mídia - MSM, idealizado por ele, que começou a se concretizar no último dia 15 de setembro, quando mais de 100 pessoas se concentraram na porta do jornal Folha de São Paulo, onde entregaram (e protocolaram) uma cópia do Manifesto do Movimento.

Veja a seguir a reportagem do Conversa Afiada, de Paulo Henrique Amorim, sobre a manifestação:



Apesar da óbvia falta de divulgação pelos grandes meios de comunicação, a iniciativa recebeu tantas mensagens de apoio que acabou sendo o pontapé inicial para a legalização do Movimento. Estão sendo cadastrados e-mails de simpatizantes e organizada uma assembléia, para se definir um estatuto e as melhores estratégias de ação. Enfim, a história completa, detalhada e atualizada é grande, e você pode ler lá no blog do Eduardo. (Sugiro voltar nos arquivos até as vésperas do dia 15, quando houve a manifestação.)

Ao contrário de que possa parecer a muitos - principalmente se/quando os "com-mídia" resolverem se manifestar sobre o MSM - o Movimento luta "por um jornalismo limpo, plural, fidedigno, apartidário e desideologizado." O grifo é meu.

Eu, Clarice, tenho minha posição política e minha ideologia, e elas são muito claras nestes meus dois blogs, o Votolula e o Fora, Aécio!. Por elas, eu luto neles. Mas não são elas as principais razões para eu assinar e divulgar esse Movimento. Eu, como cidadã, acredito que o acesso a informações isentas e completas é fundamental para o fortalecimento da democracia em sua essência, ou seja, da soberania do POVO, e não de poucos que se apropriam de sua voz.

E você?

quinta-feira, setembro 20, 2007

Uma grata e inesperada surpresa

"isso de querer
ser exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além"
(Leminski)


Esse verso sempre me acompanhou. Desde a primeira vez que li, copiei e carreguei comigo pra todo canto, é o "about me" do meu orkut. Eu o vejo como um alerta, aquela força que nos faz seguir em frente quando bate o desânimo e a vontade de desistir e conformar em apenas seguir a correnteza, que é bem mais fácil. Mas eu quero ir além de onde a correnteza me leva, eu quero me cansar de dar braçadas na direção que eu escolher e ir lá descobrir o que raios tem atrás daquela pedra. O verso incentiva, não porque represente uma crença otimista, mas porque me faz lembrar das vezes em que pude constatar sua verdade. Porque às vezes, o verso está me dizendo "ó só, não disse?" Sábio Leminski.

Hoje foi um desses dias em que tive uma boa surpresa decorrente apenas de fazer o que eu faço, de ser quem eu sou. Ok, deixo os devaneios e explico... depois de ter postado o texto do Luiz Carlos Azenha aí embaixo, voltei ao site dele e procurei por desdobramentos do assunto. Achei este post, de 12 de setembro, em que o jornalista divulga o vídeo "Liberdade, essa palavra", de Marcelo Baêta, inconformado com a ausência de divulgação de tão graves denúncias na grande mídia. O vídeo de Baêta foi reproduzido neste blog há mais de um ano, no auge da campanha, e teve até uma considerável repercussão (off-mass media, of course) entre os blogueiros mais engajados.

Não pude me conter, escrevi um e-mail para ele. Não sabia se agradecia ou cumprimentava, mas estava esfusiante de ver que finalmente o que nossas poucas e abafadas vozes tanto se esforçavam pra alardear estava começando a encontrar um espacinho que fosse em um site mantido por um jornalista conhecido, conceituado e respeitado em nível nacional. Era uma luz no fim do túnel. Eu queria contar pra ele que por mais absurdo e indignante que seja aquele vídeo - e é - ele ainda é café pequeno perto dos tantos absurdos que (não) vimos aqui em Minas, que colecionamos neste blog ao longo dos últimos meses, muitas vezes fazendo um trabalho quase de detetive pra conseguir alguma validação. Queria apenas que ele viesse ao blog, tomasse conhecimento dessas tantas outras denúncias e, quem sabe, achasse que uma ou outra pudesse merecer uma atenção especial de sua parte e acabasse alcançando também horizontes mais amplos.

Confesso que já me senti toda importante ao receber uma resposta dele, de saber que ele havia lido minha mensagem! Mas quase caí da cadeira quando descobri que ele reproduziu o meu e-mail em seu site, e até pôs chamada na capa! Como eu escrevi a ele, não pretendia nem esperava essa publicidade. Não pra mim ou para o blog, pretendia sim para as sujeiras do governador. Desta vez, a paisagem atrás da pedra foi bem mais compensadora que eu esperava, mesmo após meses e meses de braçadas incansáveis!

Azenha: mais uma vez, não sei como agradecer. Passa pouco das 22h e este blog ultrapassou em muito o último recorde de visitas em um único dia, que tinha sido ainda antes das eleições. Eu sei que ainda é pouco, muito pouco, perto da visibilidade que seria necessária para que o governador surfistinha começasse a ter sua santidade questionada pelo grande público dos meios de comunicação de massa. Mas é muito, muitíssimo relevante para uma iniciativa que começou apenas com a pretensão de atingir aos amigos mais próximos.

Além disso, mais uma vez confirmei minha crença de que cada pessoa tem o potencial de fazer alguma diferença neste mundo sim, de que se cada um fizer o que estiver ao seu alcance, as chances de uma mudança existem e não devem ser dadas como perdidas. Somente enquanto eu continuar fazendo a minha parte posso manter viva a esperança de que cada vez mais pessoas façam as suas também. E esperança renovada sempre vale a pena! :)

(Em tempo, aproveito a deixa e convido quem se interessar a ler um texto que escrevi para meu outro blog, o votolula, sobre justiça, democracia, informação e outros valores... Acho que ele meio que complementa o que vem sendo dito por aqui...)

quarta-feira, setembro 19, 2007

JN JÁ TEM CANDIDATO A PRESIDENTE

. O Jornal Nacional desta terça feira, dia 18, fez reportagem sobre um suposto "mensalão" do PSDB de Minas.

. A reportagem envolve o senador Eduardo Azeredo, do PSDB, e o Ministro Mares Guia, da articulação política do Presidente Lula.

. Mas o JN nem chegou perto do nome mais ilustre do PSDB de Minas, o Governador Aécio Neves, que aparece em todas as listas do "mensalão" mineiro.

. Quem disse que já conhecia o teor da denúncia que o Procurador-Geral da República fará sobre o suposto "mensalão" de Minas foi a revista IstoÉ.

. Como a IstoÉ tem características de um jornalismo chamemos de ... inconsistente ..., a reportagem pode ter sido o primeiro torpedo contra a candidatura de Aécio à Presidência da República.

(Clique aqui para ler sobre a reportagem da IstoÉ e quem botava dinheiro no "valerioduto")

. Como se sabe, os adversários do presidente eleito José Serra correm, sempre, o risco de ser alvejados por torpedos sob a forma, por exemplo, de dossiês.

. Só que Aécio Neves parece que venceu essa primeira barreira – se, de fato, o torpedo partiu do Palácio dos Bandeirantes - da longa caminhada que o aguarda, até ser escolhido o candidato do PSDB a Presidente.

. E venceu com direito a medalha de ouro.

. O Jornal Nacional não se deu ao trabalho de incluir Aécio Neves entre os envolvidos no "mensalão" de Minas.

. José Serra deve estar a se roer de raiva...

(Paulo Henrique Amorim, a quem eu gostaria de mandar uma porção do melhor pão de queijo das gerais, em seu ótimo Conversa Afiada)

terça-feira, setembro 18, 2007

O que a mídia não te conta

Senador Azeredo teria recebido R$ 4,5 milhões para "questões pessoais"

O inquérito da Polícia Federal que investigou o valerioduto mineiro nas eleições de 1998 diz que a campanha de reeleição do então governador e agora senador Eduardo Brandão de Azeredo arrecadou cerca de R$ 100 milhões, embora a campanha tenha declarado ao TRE despesas de pouco mais de R$ 8,5 milhões.

O tesoureiro Cláudio Roberto Mourão da Silveira moveu ação contra Eduardo Azeredo e Clésio Andrade (vice-governador no primeiro mandato de Aécio Neves) com o objetivo de obter pagamento de dívidas que teria assumido em seu nome.

Cláudio nomeou Nilton Monteiro como seu procurador para negociar um acordo.

E entregou a ele uma lista de três páginas com a discriminação detalhada dos métodos de arrecadação e os gastos da campanha.

Ao depor à Polícia Federal, Cláudio negou que houvesse passado a procuração e disse que não assinou a lista que ficou conhecida como "lista do Mourão".

Porém, as análises da PF demonstraram que é dele a assinatura nos dois documentos, sem qualquer possibilidade de que tenham sido transpostas de outro papel.

A PF admite que Mourão pode ter turbinado a lista, com o objetivo de obter um acordo melhor com aqueles que considerava devedores.

A lista, de três páginas, descreve minuciosamente as fontes do dinheiro.

Um dos truques, segundo o documento assinado por Mourão, foi na promoção do Enduro da Independência pela agência SMP&B, de Marcos Valério.

Da administração direta, ou seja, do governo de Minas, a agência recebeu R$ 2 milhões; da administração indireta, ou seja, de empresas ligadas ao governo, obteve mais de R$ 10,6 milhões.

Entre as empresas estão a CEMIG (Companhia Energética de Minas Gerais), a COPASA (Companhia de Saneamento de Minas Gerais), a COMIG (Companhia Mineradora de Minas Gerais), o BEMGE (Banco do Estado de Minas Gerais), o Crédito Real e a Loteria Mineira.

Porém, apenas uma pequena parte do dinheiro foi de fato aplicada no Enduro da Independência.

O restante foi usado na campanha.

Um dos beneficiários do "caixa dois" teria sido, segundo o documento, o atual governador de Minas Gerais, Aécio Neves, então candidato a deputado federal.

Aécio teria recebido R$ 110.000,00.

O senador Eduardo Azeredo teria recebido R$ 4,5 milhões "para compromissos diversos (questões pessoais)".

Da arrecadação total, de R$ 100 milhões, cerca de R$ 24,5 milhões teriam sido destinados ao atual ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia, "para pagamento de despesas diversas". Mares Guias era o vice-governador e havia coordenado a campanha de Azeredo em 1994.

O documento que agora Cláudio Mourão diz não ter assinado mostra que o valerioduto irrigou campanhas de dezenas de candidatos, de vários partidos, para montar a base aliada do governador.

"Parte do recurso foi com aval do governo, vindo das privatizações, de empreiteiras, Queiroz Galvão, Erkal, CBN, Egesa, Arg, Tercam, entre outros e fornecedores do Estado, de prestadores de serviços diversos, construtoras, indústrias, bancos, corretoras de valores, da CEMIG, da PRODEMG, da TELEMIG, Secretarias de Governo, inclusive da Fazenda, BANCO BDMG, de doleiros e de outros colaboradores individuais, no valor superior a cifra de R$ 80.000.000,00 (oitenta milhões de reais). Mesmo assim, ficou pendente uma dívida superior a R$ 20.000.000,00 (vinte milhões de reais)".

O relatório tem 172 páginas, foi produzido pela Diretoria de Combate ao Crime Organizado, Divisão de Repressão a Crimes Financeiros, é assinado pelo delegado Luís Flávio Zampronha de Oliveira e encaminhado ao ministro Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal - uma vez que vários dos acusados têm foro privilegiado.

O documento é um peça importante para quem quer estudar a farra do boi com dinheiro público.

(publicado por Luiz Carlos Azenha, ontem, 17 de setembro, em seu site Vi o Mundo)

PS: em um update ontem mesmo, Azenha informa ter recebido "a informação de que uma rádio mineira tocou no assunto, dizendo que o dinheiro do valerioduto financiou várias campanhas, 'inclusive do PT'." E questiona: "Ué, então deveriam ter detonado logo o Mares Guia, que é articulador político do governo Lula."
Um saquinho de pão de queijo pra quem adivinhar o que foi que o Jornal Nacional fez hoje. Com recheio pra quem acertar se foi sequer citado o nome do digníssimo governador de Minas...

PS2: para ler a íntegra da "lista do Mourão", clique aqui.