sexta-feira, março 28, 2008

Crônica de um Aécio anunciado

As elites mineiras há muito tem um sonho: eleger, novamente, um presidente da República. Lembram-se de Juscelino, da política do café com leite, lamentam Tancredo Neves, e... hoje, só falam de "Aécio".

Para concretizar esse sonho e devido à dianteira de Serra, tucanos mineiros e aliados, lançaram, às pressas, um comitê denominado "Núcleo Informal Estratégico Pró-Candidatura do governador Aécio Neves à Presidência da República".

O governo e seu núcleo sabem que a estratégia utilizada pela oposição de desqualificar o governo petista, buscando o impeachment do presidente Lula está ultrapassada. O povo derrotou Alckmin, a mídia e as elites conservadoras deste país. O segundo governo de Lula avança e estabiliza o crescimento da economia em mais de 5% ao ano, gerando emprego e renda e, principalmente, dividindo esses resultados positivos com as massas empobrecidas de nosso país.

O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a partir de agora, presente nos bolsões demiséria dos grandes centros e o "Territórios da Cidadania" nos bolsões de miséria da área rural, consolidam o governo e o PT junto à imensa maioria do nosso povo, colocando-os, junto com os aliados, como favoritos a continuar governando o Brasil. Em outras palavras, Lula tem tudo para fazer o seu sucessor.

Portanto, o governador de Minas e seu núcleo estratégico sabem que tem uma pedra no meio do caminho, sendo melhor contorná-la, já que não conseguiram destruí-la. Querem convencer o PSDB nacionalmente que sua candidatura é a única possível de superar uma outra apoiada pelo presidente Lula. Por isso, declarou recentemente que não quer ser um candidato anti-Lula (como José Serra), mas, um presidente pós-Lula.

O aceno é claro para as elites brasileiras: o que interessa é barrar o projeto democrático e popular em curso e retomar no pós-Lula as idéias neoliberais do período FHC. No entanto, para que isto seja possível, o governador e sua tropa precisam de tempo e suprimentos. Precisam conquistar a maioria brasileira, em especial os mais pobres, cada vez mais próximos do governo Lula e do PT.

Aí é que entra Belo Horizonte. Aécio quer o PT de BH para exibi-lo como troféu. Na campanha eleitoral, buscaria confundir o eleitorado, como se ele, Dilma, Patrus, Jacques Wagner ou Ciro fossem a mesma coisa, o mesmo projeto. De preferência estando no PSDB, pois daria segurança às elites do seu propósito neoliberal e apontaria como maldoso e mentiroso o argumento dos aliados de José Serra de que seria uma aventura populista ou neo-esquerdista.

Se a escolha do PSDB for por Serra servirá qualquer outra sigla que lhe dê carona, pois está convencido de que em 2010 o cavalo passará arreado. De toda forma as elites não têm com o que se preocupar. Afinal, seus dois governos em Minas foram exemplares para o modelo liberal: choque de gestão contra o serviço público; movimentos sindical e popular reprimidos com truculência; oposição sufocada; mídia amordaçada; investimentos sociais mínimos, política tributária beneficiando as grandes empresas, estado mínimo, etc...

Um deputado partidário desta estratégia me revelou com entusiasmo a pretensão do "grupo": "realizar uma nova Inconfidência Mineira". Exageros à parte, este é o pensamento predominante entre as elites das Alterosas. O problema desta história — que só poderia se repetir como farsa — é que não existe Tiradentes, mas muitos Joaquins Silverios dos Reis.

Mesmo estando claro que há 16 anos o PT e seus aliados administram muito bem Belo Horizonte – com dezenas de programas sociais de resgate da cidadania e divisão de renda, entre eles a escola integrada, o orçamento participativo, os conselhos populares; com as finanças em dia; com capacidade de investimento; com intervenções em vilas e favelas e melhorias no saneamento –; mesmo com a prefeitura e o prefeito muito bem avaliados e o PT com quase 30% de preferência na cidade; mesmo com a possibilidade de reeditar a aliança junto ao PMDB e PCdoB, garantindo uma eleição vitoriosa; mesmo assim, esta inusitada aliança entre PT e PSDB, via PSB, aqui com papel de laranja, (aliás na última eleição municipal, PT e PSB foram adversários – Pimentel x João Leite) ameaça ser implementada na capital com repercussão em Minas Gerais e no país.

Aliados são esquecidos, a unidade petista posta de lado e vereadores e deputados, antigos adversários na capital, são, repentinamente, conclamados a aderirem a esse estranho projeto.

Algumas lideranças petistas surfam nesta onda e ganham páginas na mesma imprensa "aecista" que trabalhou pelo impeachment do presidente Lula e que continua a atacar o nosso governo e o PT. Os que discordam são perseguidos e a tese de não-aliança com o PSDB aparece como irrelevante, quando raramente citada, criando-se um clima ditatorial de pensamento único, já bem conhecido dos mineiros.

Alguns agem assim com uma análise equivocada de que PT e PSDB têm projetos semelhantes e que um dia governarão juntos o Brasil. Tese sem consistência programática, posto que em 2010, novamente, liderarão blocos adversários na condução do país. Outros, por puro pragmatismo, adesão ou sobrevivência política. De toda forma, seja como for, prestam um desserviço ao projeto democrático popular em curso no país e que precisa continuar a bem dos trabalhadores e despossuídos.

Entendo que contribuir com esta aliança em BH é dar ao PSDB mineiro o troféu de que precisa para se mostrar credenciado junto às elites brasileiras a retomar o caminho trágico do projeto neoliberal interrompido.

Mais que um alerta, fica um apelo aos petistas de Belo Horizonte, de Minas e do Brasil: não caiam na crônica de um Aécio anunciado.

(Rogério Corrêa - PT/MG)

quarta-feira, março 26, 2008

Pimentel, aliança com o PSDB e fins injustificados

O debate suscitado pelo firme propósito do prefeito de BH, Fernando Pimentel, de comprometer o PT da cidade numa aliança político-eleitoral com o PSDB tem passado ao largo de questões fundamentais.

A principal e mais incômoda questão aponta para as razões da aliança. Será que elas dizem respeito aos interesses estratégicos do PT, seja em BH, seja em Minas Gerais, seja no Brasil? Ou, diferentemente, dizem respeito aos interesses do líder Pimentel, que encontra aí oportunidade de alavancar vôos mais altos no panorama político nacional, utilizando-se, para tanto, de uma associação oportunística com o governador tucano (e pré-candidato a presidente) Aécio Neves?

Como vem sendo apresentada à opinião pública e às instâncias internas do partido, a idéia de aliança com o adversário histórico só pode ser parte de uma equação que tem como resultado cacifar o prefeito Pimentel para outros vôos. Ele faz isso em detrimento do projeto partidário, dos procedimentos internos de tomada de decisão e, mais grave, com enorme prejuízo para a imagem do partido perante suas bases, das mais orgânicas às mais difusas porém não menos leais do ponto de vista eleitoral.

Se fosse outra a razão da aliança, que não à do interesse pessoal do prefeito e seu grupo, cabe levar à ultima conseqüência o seguinte debate: qual o ganho, para o partido, em abrir mão de uma candidatura própria com amplas possibilidades de vitória? Qual será o ganho para a cidade se se concretizar a hipótese de vitória dessa aliança inusitada?

Em entrevistas e conversas, Pimentel tem dito que pesquisas apontam que a população vê com bons olhos a "harmonia" entre as forças políticas. Interessante seria se a população dissesse o contrário... Mas, a partir daí, o enredo é ensaiado com o governador, de quem emulou o discurso da vocação mineira para a conciliação e entendimento. Lança mão e incorpora, como se acreditasse de verdade, no velho e surrado discurso do avô de Aécio, com citações ufanistas à "mineiridade", essa alma mítica para a qual o fazer político é atividade nobre somente se guiada pela determinação de aplainar arestas e construir consensos.

Qualquer estudante de primeiro período do curso de sociologia sabe que o discurso da mineiridade é um engodo só. Foi construído na República Velha para justificar os acordos dentro da elite, acomodando seus interesses e, claro, deixando de fora os demais, quer dizer, o povo ou suas instâncias de representação. No caso de Pimentel, muito mais grave, deixa-se de fora o PT – que, com todos os defeitos, ainda é o único partido político brasileiro que preserva um mínimo de democracia interna e impõe limites à prática do caciquismo político – tão comuns, notadamente na outra ponta da presente aliança.

Quanto aos riscos para a cidade, considero eloqüente a ausência – nas conversas, entrevistas, na badalação midiática promovida pelo governador Aécio e o prefeito Pimentel – do tema "programa de governo para BH". Aí reside o ponto central do nosso argumento. A aliança é tão somente meio, não é fim em si mesmo, não visa a cidade, não visa o bem-estar da população. O silêncio sobre o que farão e como farão, se governarem juntos BH, é o ato falho que denuncia o despropósito político da jogada.

Arrisco-me a dizer BH corre sério risco é de perder os avanços que conquistou desde que o PT, com Patrus Ananias, conquistou o poder em 1993. Avanços para os quais o PSDB sem dúvida alguma, contribui, atuando como oposição diligente. Mas que seria incapaz de fazer por si próprio, seja por não considerar, em seus métodos, a participação popular na construção de soluções que hoje são consagradas, seja por não ter mecanismos internos de crítica e autocrítica – tampouco quadros locais preparados – para administrar uma cidade como BH.

Retirar o partido do processo de escolha do candidato. Usar do poder que lhe confere o Diário Oficial do Município para convencer a militância acerca de suas teses. É essa a obra, verdadeiro PAC do desvirtuamento político, que Pimentel quer nos legar, aos munícipes e aos militantes partidários, com a aliança PT-PSDB.