segunda-feira, setembro 24, 2007

A reação de Aécio

(Hugo Studart, para a revista Istoé)

O governador condecora o procurador da República e sua assessoria nega "qualquer repasse" do Mensalão Mineiro

O governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), sabia há mais de um ano que seu nome era citado em uma lista como beneficiário de R$110 mil provenientes de caixa 2 da campanha tucana de 1998 em Minas. Ele sabia também que essa lista fazia parte do inquérito da Polícia Federal que investigava o Mensalão Mineiro. E que o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, estava às vésperas de encaminhar ao Supremo Tribunal Federal denúncia contra os envolvidos nesse esquema. Na sexta-feira, 14, sem saber que ISTOÉ circularia no dia seguinte com os documentos do caso, o governador encontrou uma forma de obter do procurador alguma sinalização sobre sua efetiva situação no inquérito. Antonio Fernando esteve em Belo Horizonte para receber uma medalha do Ministério Público do Estado. Aproveitando a visita, Aécio resolveu convidá-lo para receber uma outra comenda: a Medalha da Inconfidência, tradicionalmente entregue no dia 21 de abril em Ouro Preto. Certamente, se estivesse prestes a relacioná-lo entre os envolvidos no Mensalão, Antonio Fernando não aceitaria a honraria, calculou Aécio. Mas o procurador aceitou a comenda. Aécio ficou tranqüilo.

A cerimônia foi discreta, exclusiva e rápida. Por volta das 9 horas, o governador perfilou todo o secretariado para aplaudir o procurador-geral no Palácio da Liberdade, sede do governo mineiro. Entre os presentes estavam quatro secretários de Estado também relacionados pela PF como tendo recebido dinheiro do Mensalão Mineiro. Logo depois, Aécio voltou a aplaudir Antonio Fernando na sede do Ministério Público, onde o procurador recebeu a segunda medalha do dia. Dois ministros do Supremo também receberam a mesma comenda, Joaquim Barbosa e Carmen Lúcia Rocha. Por coincidência, Barbosa é o relator do processo do caixa 2 tucano. Terminada a cerimônia, foram todos para Sabará almoçar na casa do ex-ministro do STF Sepúlveda Pertence. A refeição durou uma hora e meia e Aécio não ousou tocar no assunto que o preocupava, garante um dos presentes. "Vai dar tudo certo", confidenciou Aécio a um amigo, logo depois do almoço.

No dia seguinte, depois de publicada reportagem de ISTOÉ revelando o relatório final da Polícia Federal sobre o Mensalão Mineiro, Aécio se recolheu em silêncio. Na quarta-feira, 19, em sua única manifestação sobre o caso, encaminhou através de assessores uma nota à redação garantindo que, em 1998, "não houve repasse de quaisquer recursos financeiros para o então candidato Aécio Neves", e que "o nome do governador não é citado nas 172 páginas do relatório divulgado pela Polícia Federal". Diz ainda a nota que "em relação à lista contendo os nomes de 159 candidatos, a própria PF não atesta o conteúdo da mesma". De fato, como ISTOÉ revelou, a lista apresenta casos distintos. Há 82 políticos da lista com documentos bancários que provam o recebimento do dinheiro. Outros, como é o caso de Aécio, estão apenas citados na lista do ex-tesoureiro da campanha. No dia 30 de setembro, o procurador faz aniversário, mas quem pode ganhar um presente é o governador.

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