sexta-feira, agosto 18, 2006

MEMÓRIA - A censura à mídia mineira (II)

Artigos publicados pelo jornalista Luiz Otávio, de Belo Horizonte, no portal Comunique-se, voltado para profissionais de comunicação:

Jornalista denuncia censura na Rede Minas - 26/05/2003

O jornalista Gilberto Menezes, da Rede Minas de Televisão, emissora oficial do governo de Minas Gerais, denunciou, em correspondência enviada ao Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais (SJPMG), que o programa que dirigia, o "Palavra Cruzada", de entrevistas políticas, "foi censurado pelo governo Aécio Neves", o que o levou a pedir demissão. Segundo Menezes, a retirada do programa do ar aconteceu principalmente por exigência do ex-governador de Minas e hoje senador pelo PSDB, Eduardo Azeredo e do ex-ministro das Comunicações, Pimenta da Veiga. "Os motivos foram, simplesmente, as críticas que fazia sistematicamente aos governos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e à administração de Eduardo Azeredo enquanto governador", acrescentou.

"Chegaram a me propor permanecer na emissora, inclusive com aumento da remuneração, desde que me calasse perante esta censura", prosseguiu Gilberto Menezes. O jornalista informou ainda que a presidente da Rede Minas, jornalista Ângela Carrato e o secretário estadual das Comunicações, Danilo de Castro, "resistiram ao extremo às pressões para a retirada do programa da grade da TV. No caso de Ângela, sua resistência chegou até ao risco de perda do cargo, o que fortaleceu o meu pedido de demissão".

Menezes ressaltou que, nos mais de quatro anos em que esteve à frente do "Palavra Cruzada", entrevistou políticos e especialistas das mais variadas tendências, ideologias e credos, "incluindo tucanos das mais diversas plumagens". Ele destacou também que o programa foi o único da Rede Minas a ser citado no Congresso Nacional, duas vezes na tribuna do Senado e outras duas no plenário da Câmara Federal. "Estou prestando estas informações ao Sindicato em legítima defesa do exercício de minha profissão", acentuou.

Em dezembro passado, segundo o Departamento de Taquigrafia do Legislativo federal, o deputado Sérgio Miranda (PCdoB/MG), em pronunciamento na tribuna da Câmara, afirmou considerar a Rede Minas de Televisão "uma organização democrática. Recentes programas de que lá participei, como o 'Palavra Cruzada', apresentado pelo jornalista Gilberto Menezes, tiveram enorme repercussão. Pessoas me abordavam na rua para comentar a entrevista, o que demonstra a grande audiência que a Rede tem no estado. Ressalto também o seu aspecto democrático, pois esta emissora cede espaço para todas as forças políticas".

Já o então deputado Tilden Santiago, hoje embaixador do Brasil em Cuba, declarou, na mesma sessão - em que se homenageava a Rede Minas de Televisão - que "sou testemunha da ampla repercussão de diversos programas da emissora, inclusive o 'Palavra Cruzada', apresentado por Gilberto Menezes. A Rede Minas veicula matérias que destacam a cultura do povo mineiro".

No Senado, o senador Lauro Campos disse que "...hoje me considero revigorado, porque estive em Belo Horizonte, na Rede Minas, no programa do jornalista Gilberto Menezes, que considero o mais competente apresentador da televisão brasileira. Não esses aí que se dizem jornalistas. Isso que se vê não é jornalismo. São focas e o serão até a morte...". E continuou: "Fala-se muito em ética mas até hoje não ouvi uma definição adequada para o termo. A ética, tão difícil de ser definida, orientou, passo a passo, o compasso ditado por José Maria Rabelo (um dos participantes do programa) e o mesmo compasso se encontra no programa de Gilberto Menezes, arriscando, lutando e enfrentando todas as forças reacionárias que querem manter a ética da força, do despotismo e da violência. É a falsa ética da antivida, a falsa ética tanática, essa que está presente na Casa Branca, quando o sr. George W. Bush, por exemplo, ameaça sete países com a bomba atômica...".

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SJPMG denuncia omissão e censura - 03/07/2003

O presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais, Aloísio Lopes, lamentou, em artigo publicado na última edição do jornal Pauta, órgão oficial da entidade, que esteja aumentando o número de reclamações que o órgão vem recebendo, em relação ao comportamento da mídia mineira sobre assuntos que envolvem o desempenho da administração do governador Aécio Neves. "Por parte dos servidores estaduais, a reclamação vai desde a omissão até a distorção dos fatos", diz Lopes, ressaltando que a grande queixa do funcionalismo é que os jornais mandam repórteres realizarem coberturas de suas atividades, "mas o que é publicado fica absolutamente diferente daquilo que ocorreu". Para o presidente do SJPMG, tudo leva a crer que estas alterações "acontecem no momento da edição das matérias".

"Esta situação tem deixado muitos repórteres em uma situação no mínimo constrangedora", prosseguiu, assinalando que este constrangimento já é notado também junto a alguns editores e chefes de redações de jornais, emissoras de rádio e de televisão, "pressionados a seguir ordens editoriais emanadas de escalões superiores".

O sindicalista adverte que estes fatos "são gravíssimos", revoltam os jornalistas e prejudicam a sociedade. Ele denuncia que, há tempos, um empresário do setor confessou que, em seu veículo, "vendem-se notícias, não idéias". Para o dirigente sindical, jornais, rádios e TVs não podem utilizar a crise financeira que enfrentam para negociar a sua linha editorial. "Além de serem um negócio, os meios de Comunicação lidam com um bem essencial à sociedade, que é a informação".

Lopes informou ainda que a Comissão de Ética e Liberdade de Imprensa do SJPMG está coletando este tipo de denúncias para, se for o caso, questionar diretamente as empresas jornalísticas. "Se comprovada a volta da censura nas redações mineiras, será preciso punir os corruptos e corruptores. E quem se omite em relação ao problema pode ser confundido com um deles".

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