quarta-feira, maio 28, 2008

"O prefeito excedeu-se na liderança", diz Patrus Ananias

(Sidney Martins, jornal Hoje em Dia)

Para o PT encontrar uma saída digna para o imbróglio que se criou em BH, o prefeito Fernando Pimentel deverá tomar a iniciativa de rever o processo que possibilitou a formalização da aliança do PT com o PSDB. A opinião é do ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Patrus Ananias. "A correção cabe ao prefeito, porque ele tem a maioria do partido em BH. Mas o PT é um partido nacional e, é claro também que a direção municipal deve estar subordinada a decisão maior do partido. Então, para encontrarmos uma saída digna, decente, nós temos de movimentar um pouco, reavaliar, rever o processo em BH", disse Patrus, em entrevista exclusiva ao HOJE EM DIA.

O senhor foi consultado pelo prefeito Fernando Pimentel sobre se seria ou não candidato à Prefeitura de BH antes do anúncio da aliança?
Foi o contrário, eu comuniquei ao prefeito. Fui convidado pelo presidente Lula para continuar no ministério. Tive, então, de fazer uma opção. Não sou candidato porque não quero. Belo Horizonte é a minha cidade, pela qual tenho um carinho enorme. Inclusive estabelecemos aqui uma base que chegou até o prefeito Fernando Pimentel. A questão é de missão.

O senhor foi consultado por Pimentel sobre a perspectiva de aliança com o PSDB?
Quando comuniquei ao prefeito a minha decisão, sugeri a ele um nome, que ele sabe quem é - não vou voltar mais a esta questão, até por respeito a esta pessoa, mas isto não foi levado em consideração. Com relação ao nome que depois foi apresentado não tive nenhuma participação. Fiquei conhecendo hoje (na última segunda-feira), aqui (no Palácio da Liberdade), o senhor Marcio de Lacerda.

O senhor tem restrições a Lacerda?
Não tenho restrições pessoais a ninguém. As restrições que tenho são em relação à maneira como as coisas foram feitas, inclusive vinculando claramente o processo eleitoral de 2008 a 2010.

A ex-reitora (UFMG) Ana Lúcia Gazzola seria alternativa?
Claro que teríamos de trabalhar os termos fundamentais do conteúdo. Não poderia ser um outro nome imposto como foi o nome do pretenso, do candidato apresentado de cima para baixo. Eu sequer conheço o senhor Marcio Lacerda. A ex-reitora Ana Lúcia Gazzola – é claro que o nome também teria de ser discutido com os nossos interlocutores e dentro do partido – me parece mais plural. Era um nome que foi colocado para ser avaliado com a perspectiva de uma integração mais ampla. É uma pessoa que conheço e respeito. Mas o nome dela também foi desconsiderado como foram desconsiderados outros nomes que nós colocamos no processo.

Houve, então, um atropelamento?
Eu reconheci a liderança do prefeito para conduzir o processo sucessório, mas, talvez, tenha cometido um erro de avaliação. Acreditei efetivamente que o prefeito agisse com racionalidade política, razoabilidade, sensibilidade, bom senso e, sobretudo, espírito partidário. Esperava a condução do processo num contexto de ouvir as lideranças e as bases partidárias, sobretudo as bases autênticas e históricas e não filiados massivos de última hora. O ministro Luiz Dulci também não foi ouvido; interlocutores como o vice-presidente da República, José Alencar, o ministro das Comunicações, Hélio Costa, e outras lideranças da base (de Lula) também não foram ouvidos.

A reação a este processo veio a público, mas não teria sido um pouco tardia?
O próprio prefeito, em determinado momento, reconheceu equívocos na condução do processo. Só que ele reconheceu mas, infelizmente, não tomou nenhuma medida concreta para corrigir esses equívocos e dar ao processo um caráter mais amplo, mais plural, mais democrático e, sobretudo, um caráter mais específico voltado para a questão de Belo Horizonte.

Em que medida o processo em BH foi equivocado?
O prefeito excedeu-se, digamos assim, na sua liderança. Esqueceu-se de compartilhar com outras lideranças históricas do PT e de interlocutores nossos a discussão de uma aliança delicada envolvendo o PSDB, que é um partido que faz oposição ao Governo federal.

A aliança foi aprovada pelos diretórios municipal e estadual; a executiva nacional, por duas vezes, já vetou. Resta o Diretório Nacional. Um outro veto não ficaria "estranho" à vontade que predomina no Estado?
O PT é um partido nacional. Neste sentido, respeitando as especificidades locais e regionais, o PT não pode abrir mão de ser um partido nacional.

O que o senhor defende? É possível uma aliança com o PSDB?
Defendo que as minorias do PT sejam respeitadas. Há, hoje, uma maioria do PT em BH vinculada ao prefeito. Eu questiono esta maioria. Eu acho que é uma maioria que foi construída fora das melhores tradições do nosso partido, que sempre procurou filiar pessoas de forma consciente. Eu considero que é uma maioria artificial. Mas tudo bem, nós não tomamos nenhuma medida contra isso, prevalece. Há hoje, uma maioria concreta, dentro do diretório municipal, do prefeito. Esta maioria não se traduz no plano estadual. Como nós vimos, foi um encontro equilibrado, tecnicamente empatado. E, ao que tudo indica, não prevalece também na direção nacional.

O que o senhor vislumbra, então?
Aqui em Belo Horizonte, o prefeito tem a hegemonia. Mas o PT sempre aprendeu que as minorias não podem ser esmagadas, desrespeitadas nos seus legítimos direitos de militância. Então, o que nós esperamos é um gesto de grandeza do prefeito Fernando Pimentel no sentido de garantir, em primeiro lugar, a unidade do PT em BH. Esta é a responsabilidade dele, porque ele tem a maioria, e foi ele que construiu este processo de uma candidatura fora do PT. E esperamos também que, a partir da unidade do PT, possamos retomar a discussão na perspectiva da unidade da esquerda, das forças progressistas e do campo democrático-popular.

O senhor está passando a bola para o prefeito?
Na prática, a bola, no plano municipal, está com o prefeito Fernando Pimentel. Cabe a ele um gesto de inclusão de pessoas que foram excluídas. Dentre elas eu me incluo.

E quanto à chapa Marcio Lacerda-Roberto Carvalho? Seria mantida?
Meu raciocínio é claro. Entendo, junto com outros companheiros e companheiras, que o processo em Belo Horizonte foi equivocado e o que é equivocado deve ser corrigido.

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