quarta-feira, março 26, 2008

Pimentel, aliança com o PSDB e fins injustificados

O debate suscitado pelo firme propósito do prefeito de BH, Fernando Pimentel, de comprometer o PT da cidade numa aliança político-eleitoral com o PSDB tem passado ao largo de questões fundamentais.

A principal e mais incômoda questão aponta para as razões da aliança. Será que elas dizem respeito aos interesses estratégicos do PT, seja em BH, seja em Minas Gerais, seja no Brasil? Ou, diferentemente, dizem respeito aos interesses do líder Pimentel, que encontra aí oportunidade de alavancar vôos mais altos no panorama político nacional, utilizando-se, para tanto, de uma associação oportunística com o governador tucano (e pré-candidato a presidente) Aécio Neves?

Como vem sendo apresentada à opinião pública e às instâncias internas do partido, a idéia de aliança com o adversário histórico só pode ser parte de uma equação que tem como resultado cacifar o prefeito Pimentel para outros vôos. Ele faz isso em detrimento do projeto partidário, dos procedimentos internos de tomada de decisão e, mais grave, com enorme prejuízo para a imagem do partido perante suas bases, das mais orgânicas às mais difusas porém não menos leais do ponto de vista eleitoral.

Se fosse outra a razão da aliança, que não à do interesse pessoal do prefeito e seu grupo, cabe levar à ultima conseqüência o seguinte debate: qual o ganho, para o partido, em abrir mão de uma candidatura própria com amplas possibilidades de vitória? Qual será o ganho para a cidade se se concretizar a hipótese de vitória dessa aliança inusitada?

Em entrevistas e conversas, Pimentel tem dito que pesquisas apontam que a população vê com bons olhos a "harmonia" entre as forças políticas. Interessante seria se a população dissesse o contrário... Mas, a partir daí, o enredo é ensaiado com o governador, de quem emulou o discurso da vocação mineira para a conciliação e entendimento. Lança mão e incorpora, como se acreditasse de verdade, no velho e surrado discurso do avô de Aécio, com citações ufanistas à "mineiridade", essa alma mítica para a qual o fazer político é atividade nobre somente se guiada pela determinação de aplainar arestas e construir consensos.

Qualquer estudante de primeiro período do curso de sociologia sabe que o discurso da mineiridade é um engodo só. Foi construído na República Velha para justificar os acordos dentro da elite, acomodando seus interesses e, claro, deixando de fora os demais, quer dizer, o povo ou suas instâncias de representação. No caso de Pimentel, muito mais grave, deixa-se de fora o PT – que, com todos os defeitos, ainda é o único partido político brasileiro que preserva um mínimo de democracia interna e impõe limites à prática do caciquismo político – tão comuns, notadamente na outra ponta da presente aliança.

Quanto aos riscos para a cidade, considero eloqüente a ausência – nas conversas, entrevistas, na badalação midiática promovida pelo governador Aécio e o prefeito Pimentel – do tema "programa de governo para BH". Aí reside o ponto central do nosso argumento. A aliança é tão somente meio, não é fim em si mesmo, não visa a cidade, não visa o bem-estar da população. O silêncio sobre o que farão e como farão, se governarem juntos BH, é o ato falho que denuncia o despropósito político da jogada.

Arrisco-me a dizer BH corre sério risco é de perder os avanços que conquistou desde que o PT, com Patrus Ananias, conquistou o poder em 1993. Avanços para os quais o PSDB sem dúvida alguma, contribui, atuando como oposição diligente. Mas que seria incapaz de fazer por si próprio, seja por não considerar, em seus métodos, a participação popular na construção de soluções que hoje são consagradas, seja por não ter mecanismos internos de crítica e autocrítica – tampouco quadros locais preparados – para administrar uma cidade como BH.

Retirar o partido do processo de escolha do candidato. Usar do poder que lhe confere o Diário Oficial do Município para convencer a militância acerca de suas teses. É essa a obra, verdadeiro PAC do desvirtuamento político, que Pimentel quer nos legar, aos munícipes e aos militantes partidários, com a aliança PT-PSDB.

Um comentário:

Anônimo disse...

Concordo plenamente. Pimentel está pensando apenas em seu futuro político. Quem lembra de BH antes de Patrus não tem saudades. A cidade era primária, sem participação popular e sujeita a reformas de praças no fim do mandato. Aécio é o que há de mais atrasado em política, porque se apóia numa imagem sem conteúdo. Sua administração é um vazio do início ao fim. Quer apostar que a Linha Verde só fica pronta às vésperas da eleição? É a praça em nível estadual...